
Quem diria que, depois de tanta água, seria justamente o fluxo de visitantes que traria alívio? As cidades gaúchas que viraram notícia pelos estragos das enchentes em maio agora respiram novos ares — e não, não é metáfora. O cheiro de esperança, misturado com o aroma de pão caseiro das padarias que reabriram, toma conta das ruas.
Das águas à reconstrução
Parece até história de filme: em menos de três meses, cenários de destruição absoluta deram lugar a mutirões de voluntários, lojas reabrindo às pressas e — pasmem — turistas curiosos. Não aqueles que só tiram foto, mas os que chegam com as mangas arregaçadas e a carteira aberta. Gente que, sabe como é, resolveu trocar as férias na praia por uma viagem com propósito.
"A gente esperava solidão, mas recebeu abraços de desconhecidos", conta Dona Marli, dona de uma pousada em Canela que virou ponto de apoio. Ela, que perdeu móveis e parte da estrutura, hoje divide histórias — e bolachas caseiras — com hóspedes de São Paulo e Minas. "Não são clientes, são amigos que apareceram na hora certa", diz, com a voz embargada.
Números que animam
- Gramado já registra 65% da ocupação hoteleira pré-enchentes
- Rota Romântica recebeu 40% mais visitantes em julho que no mesmo período de 2024
- Feiras de artesanato movimentaram R$ 2,3 milhões só no último mês
Mas calma lá, não é só flores. Os comerciantes — esses guerreiros de carteirinha — admitem: ainda falta muito. Só que agora, com o turismo dando uma mãozinha, o "muito" parece menos assustador. "Cada café vendido, cada noite de hospedagem, é um tijolo na nossa reconstrução", filosofa o dono de uma vinícola em Bento Gonçalves, enquanto serve degustações para um grupo de argentinos.
O que esperar da região?
Se você está pensando em visitar, prepare-se para experiências autênticas (e emocionantes):
- Turismo de voluntariado: Pousadas oferecem descontos para quem quiser ajudar em mutirões
- Roteiros solidários: De cada R$ 100 gasto em lojas locais, R$ 5 vai para fundos de reconstrução
- Novas histórias: Guias turísticos agora incluem relatos da superação pós-enchente nos passeios
E olha só que interessante: até os eventos tradicionais ganharam novos significados. A Feira do Livro de Gramado, marcada para setembro, vai ter um espaço especial para relatos sobre a tragédia — porque, convenhamos, história também se faz com a memória do que dói.
É claro que as cicatrizes ainda estão lá, visíveis em algumas paredes descascadas e calçadas recém-reconstruídas. Mas o que era para ter matado o ânimo da região acabou, ironicamente, revelando sua força. Quem visita hoje não encontra só paisagens bonitas, mas lições de resiliência — e, quem sabe, leva um pouco disso na bagagem.