
Quem diria que o simples ato de tomar um drink poderia virar uma roleta-russa? É exatamente esse sentimento que tomou conta dos bares mais badalados de Porto Alegre nas últimas semanas. O medo — aquele frio na espinha — de consumir metanol sem querer está mudando completamente os hábitos dos frequentadores da noite.
Os números não mentem: uma queda brutal de 30% nas vendas de destilados em lugares como a Cidade Baixa e o Bom Fim. Trinta por cento! Enquanto isso, a cerveja — aquela velha conhecida de sempre — virou a queridinha do momento. O pessoal tá preferindo mil vezes o chopp gelado àquela cachaça duvidosa.
O Alerta que Parou a Noite
Tudo começou com aquele alerta da Vigilância Sanitária que correu que nem rastilho de pólvora pelos grupos de WhatsApp. Metanol na bebida? A coisa é séria, e todo mundo sabe. Os sintomas vão desde tontura e enjoos até... bem, até coisas muito piores. Cegueira, por exemplo. Ou algo irreversível.
"A gente viu o movimento mudar da noite para o dia", conta Marcelo Silva, dono de um bar tradicional na Rua da República. "O cliente chega, olha para a prateleira de destilados, faz aquela cara pensativa, e no final pede uma cerveja. É quase automático."
Destilados na UTI, Cerveja em Alta
O que está acontecendo nos balcões dos bares é sintomático:
- Whisky, que antes era estrela principal, agora fica encalhado
- Cachaça artesanal — aquela que o pessoal adorava experimentar — virou artigo de risco
- Vodka e gin, que faziam sucesso entre o público mais jovem, perderam espaço
- E a cerveja? Bom, a cerveja virou a salvação da pátria
Não é exagero dizer que os garçons estão se acostumando a ouvir frases como "melhor não arriscar" ou "vou de loira mesmo". Uma mudança de comportamento e tanto para uma cidade que sempre teve tradição de botecos e happy hours animados.
O Preço da Segurança
Aqui vem o detalhe que faz a gente pensar: a cerveja, em muitos casos, até custa mais caro que alguns destilados. Mas o que vale mais — economizar uns trocados ou garantir que você vai voltar para casa em segurança? A resposta, pelo visto, tá clara na cabeça do pessoal.
"Prefiro tomar cerveja, pelo menos sei o que estou consumindo", disse uma estudante de 24 anos que preferiu não se identificar. "Essa história do metanol deixou todo mundo com o pé atrás."
E ela não é a única. A psicologia do medo é algo fascinante — mesmo sem casos confirmados na região, o temor já foi suficiente para alterar completamente o consumo. A mente humana, né? Basta uma sombra de dúvida para mudar tudo.
E Agora, José?
Enquanto isso, os estabelecimentos se viram nos trinta para adaptar seus cardápios. Alguns estão investindo pesado em cervejas especiais e artesanais. Outros criaram coquetéis à base de cerveja — sim, isso existe — para agradar quem quer algo diferente mas sem correr riscos.
O fato é que a relação do porto-alegrense com a bebida mudou. Pelo menos por enquanto. Quem sabe, quando a poeira baixar e a confiança voltar, os destilados recuperem seu lugar ao sol. Mas uma coisa é certa: o fantasma do metanol vai assombrar a noite de Porto Alegre por um bom tempo.
No fim das contas, o que importa mesmo é brindar à vida — e de preferência, sem sustos.