
Imagine confiar num aparelho que pode salvar sua vida — e ele simplesmente falhar. Foi exatamente isso que aconteceu com centenas de diabéticos na região metropolitana de Belo Horizonte. As prefeituras, num movimento raro de sincronia, decidiram suspender o uso dos medidores de glicose distribuídos gratuitamente. E não foi por burocracia: testes revelaram que os dispositivos estavam dando resultados tão inconsistentes quanto previsão do tempo em abril.
O que deu errado?
Os tais medidores — aqueles que deveriam ser os olhos dos pacientes para controlar o diabetes — começaram a apresentar variações absurdas. Um mesmo teste, aplicado minutos depois, mostrava números completamente diferentes. "É como se o termômetro marcasse 20°C e, depois de soprar nele, subisse para 40°C", comparou um técnico de laboratório que preferiu não se identificar.
As primeiras suspeitas surgiram quando pacientes relataram sintomas incompatíveis com as medições. Alguns, com supostos níveis estáveis, sentiam tonturas e mal-estar típicos de hipoglicemia. Outros, com números alarmantes no visor, estavam perfeitamente normais. Aí, meu amigo, a coisa ficou séria.
Reação das autoridades
Quando o problema veio à tona, as prefeituras agiram rápido — coisa que, convenhamos, não é sempre que acontece. "Prefiro pecar pelo excesso de cautela", declarou o secretário de saúde de Contagem, enquanto anunciava a suspensão imediata dos dispositivos. A medida vale para todos os 34 municípios da Grande BH, afetando principalmente pacientes do SUS que dependiam desses aparelhos.
O que mais assusta é que esses medidores já estavam em uso há meses. Quantas decisões médicas foram tomadas com base em dados errados? Quantas doses de insulina foram aplicadas desnecessariamente? São perguntas que ainda ecoam nos corredores das secretarias de saúde.
E agora?
Enquanto os fabricantes se defendem — alegando "possível lote comprometido" —, os pacientes voltam ao método antigo: furar o dedo e torcer para o resultado estar certo. As prefeituras prometeram substituir os equipamentos defeituosos, mas não adiantaram prazo. "É complicado", suspira uma enfermeira do posto de saúde do Barreiro, "a gente sabe que cada dia sem monitoramento adequado é um risco".
Para quem depende desses aparelhos, a orientação é clara: na dúvida, procure seu médico. Melhor passar pelo incômodo de ir ao posto do que confiar em números que podem estar mentindo. E assim, mais um capítulo da saúde pública brasileira se escreve — com doses iguais de urgência e improviso.