
O coração de Monte Alegre, no oeste do Pará, ficou em pedaços nesta sexta-feira (18). Uma tragédia que ninguém esperava — e que poderia ter sido evitada. Maria Clara (nome fictício), uma menina de apenas 2 anos, perdeu a vida depois de ser picada por um escorpião enquanto dormia tranquilamente na rede, na casa da família, na zona rural.
Segundo relatos dos vizinhos — aqueles que chegaram primeiro quando o desespero tomou conta da casa —, tudo aconteceu rápido demais. "Ela começou a chorar muito, a mãe achou que era pesadelo... Quando viram o bicho, já era tarde", contou Dona Raimunda, que prefere não revelar o sobrenome.
O socorro que não chegou a tempo
Na roça, as coisas nunca são fáceis. O posto de saúde mais próximo fica a 40 minutos de barco — tempo precioso que Maria Clara não teve. A família tentou de tudo: remédios caseiros, benzedeira... Mas o veneno do Tityus obscurus (o temido escorpião-preto da região) age rápido em crianças pequenas.
"É uma dor que não tem explicação", disse o pai, agricultor, entre lágrimas. Ele contou que a filha era "a alegria da casa", sempre correndo atrás das galinhas no quintal de terra batida.
Números que assustam
- Só em 2025, o Pará já registrou 142 casos graves de picadas de escorpião
- Crianças menores de 5 anos são as principais vítimas fatais
- Monte Alegre está entre os 15 municípios com maior incidência no estado
E aqui vai um detalhe importante — que muita gente nem imagina: esses bichos adoram se esconder em redes de dormir, principalmente as mais velhas, com frestas. "É preciso sacudir bem antes de deitar, olhar cada cantinho", alerta o agente de saúde João Batista.
O caso — que comoveu até os profissionais mais experientes da região — reacendeu o debate sobre a falta de soro antiveneno em comunidades ribeirinhas. Enquanto isso, na casa de taipa onde Maria Clara vivia, resta o silêncio. E uma rede vazia, balançando ao vento.