
Aos 30 anos, quando a vida deveria estar no seu auge, Thaís Vilela recebeu um daqueles golpes que fazem o chão sumir debaixo dos pés. Dois AVCs — sim, dois — em sequência. O lado direito do corpo paralisou completamente. O rosto, então, nem se fala. A advogada, acostumada a lutar nos tribunais, agora enfrentava uma batalha muito mais pessoal e assustadora.
Quem olha para ela hoje, correndo pelas ruas de Palmas com uma determinação que quase dá para tocar, nem imagina o caminho tortuoso que percorreu. A verdade é que a vida prega peças terríveis, mas algumas pessoas têm uma resiliência que beira o inacreditável.
O dia em que o mundo desabou
Era uma terça-feira comum. Thaís trabalhava normalmente quando começou a sentir uma dormência estranha no braço direito. "Achei que era cansaço", lembra. Horas depois, já não conseguia se levantar. O diagnóstico: acidente vascular cerebral. Mas o pior ainda estava por vir — uma semana depois, veio o segundo AVC.
O que se seguiu foram meses de uma rotina desgastante. Fisioterapia, fonoaudiologia, tratamentos intermináveis. "Cheguei a pensar que nunca mais andaria normalmente", confessou em um daqueles momentos de vulnerabilidade que todos temos, mas poucos admitem.
A virada inesperada
O ponto de mudança veio de onde menos se esperava. Durante a reabilitação, um médico sugeriu caminhadas leves. Caminhadas? Ela mal conseguia ficar em pé! Mas foi nessa tentativa aparentemente insignificante que algo despertou.
Primeiro, foram dez metros. Depois, vinte. Um mês depois, já dava voltas no quarteirão. A sensação de liberdade que a corrida proporcionava era viciante — cada passo era uma conquista, cada respiração mais profunda uma vitória contra as limitações impostas pelo próprio corpo.
Do hospital para a pista
O que começou como terapia transformou-se em paixão. Em menos de um ano, Thaís já completava sua primeira corrida de 5 km. "Chorei como uma criança ao cruzar a linha de chegada", recorda. A emoção transbordava — afinal, aquela mesma perna que arrastara meses antes agora a carregava para frente.
A progressão foi meteórica. Dez quilômetros, meia maratona... até que o impossível aconteceu: completou uma maratona inteira. Quarenta e dois quilômetros de superação pura. "Cada quilômetro doía, mas cada passo me lembrava de onde eu tinha vindo", reflete com aquela sabedoria que só quem enfrentou o abismo possui.
Além da linha de chegada
Hoje, Thaís não corre apenas por si mesma. Tornou-se uma espécie de farol para outros que enfrentam limitações físicas. Sua história — contada sem pieguice, mas com a autenticidade de quem viveu cada segundo do drama — inspira dezenas de pessoas em situações similares.
"As pessoas me perguntam como tive coragem", diz enquanto amarra os cadarços dos tênis de corrida. "A verdade é que não se trata de coragem, mas de necessidade. Ou eu me movia, ou a paralisia me venceria."
Seu rosto ainda guarda leves marcas da paralisia facial, quase imperceptíveis para quem não sabe da história. Mas os olhos — ah, os olhos! — brilham com uma intensidade que derruba qualquer barreira.
A lição que fica? Talvez seja que os limites existem mesmo para serem superados. E que às vezes, a maior maratona não está nas ruas, mas dentro de nós mesmos.