O presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou uma das decisões mais aguardadas de seu governo ao indicar o advogado-geral da União, Jorge Messias, para ocupar a vaga no Supremo Tribunal Federal deixada por Luis Roberto Barroso, que se aposentou. A escolha, anunciada após semanas de especulação, contrariou diretamente interesses do Centrão e demonstrou a disposição do mandatário em reafirmar sua autoridade.
Uma decisão estratégica
A nomeação de Messias representa uma vitória pessoal de Lula, que priorizou a confiança sobre pressões políticas. O advogado-geral da União atende a dois critérios considerados fundamentais pelo Planalto: é da absoluta confiança do presidente e pertence à comunidade evangélica, grupo com o qual o governo busca estabelecer pontes.
O anúncio desconsiderou apelos de setores do Congresso e até mesmo de ministros do STF que defendiam a indicação do senador Rodrigo Pacheco. Também foi ignorada a campanha por uma mulher negra na Corte, que traria maior diversidade e representatividade ao órgão máximo do Judiciário brasileiro.
O jogo de poder com o Centrão
A decisão de Lula ocorre em um contexto delicado de relações com o Congresso. Consciente de que a esquerda é minoria no Legislativo, o presidente já havia feito concessões significativas ao Centrão, distribuindo ministérios e cargos em estatais.
Davi Alcolumbre, presidente do Senado, controla dois ministérios, enquanto Arthur Lira, poderoso ex-presidente da Câmara, assumiu o comando da Caixa Econômica Federal. No entanto, Lula estabeleceu limites claros sobre até onde está disposto a ceder.
Arthur Lira não conseguiu emplacar um aliado no Ministério da Saúde, assim como Alcolumbre não viu realizado seu sonho de colocar um nome de sua confiança no STF. A mensagem do Planalto é clara: há espaços para negociação, mas algumas prerrogativas presidenciais são intocáveis.
As consequências imediatas
A reação do Congresso à indicação de Messias não foi amistosa. Davi Alcolumbre anunciou a votação de uma pauta-bomba como resposta à decisão do presidente, em claro recado de que a aprovação de projetos no plenário exigirá demonstrações de poder por parte do Executivo.
O episódio revela a complexa dinâmica de poder que marca o atual governo. Sempre que confrontado ou aconselhado a seguir rumos contrários à sua vontade, Lula tem uma resposta padrão para assessores e aliados: "ganhe uma eleição presidencial que a gente conversa".
Esta postura, embora reafirme a autoridade presidencial, tende a tensionar ainda mais as relações com um Congresso que acumulou poder significativo nos últimos anos e não hesita em demonstrar sua capacidade de influenciar os rumos do governo.