A corrida eleitoral de 2026 já tem um alvo definido e inédito nos 217 anos de história institucional do país: o Supremo Tribunal Federal (STF). Pela primeira vez, o tribunal máximo da nação será exposto diretamente nos palanques, em um movimento que reflete uma convergência de interesses no Congresso Nacional.
Congresso em Movimento Contra a Concentração de Poder
O fenômeno é resultado de um esforço bipartidário no Legislativo para reduzir ou limitar o poder concentrado pelos onze ministros do STF. O tribunal é um caso singular, acumulando funções de última instância constitucional, cível e criminal, o que, para muitos parlamentares, representa uma concentração excessiva de atribuições.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem manifestado preocupação com a situação. Em reuniões com aliados, Lula tem feito advertências sobre uma eventual ofensiva de candidatos da extrema-direita contra a Corte. “Precisamos ganhar maioria no Senado, senão esses caras vão avacalhar a Suprema Corte”, disse o presidente, segundo as informações. Ele complementou: “Não é porque a Suprema Corte é uma maçã doce, não. É porque precisamos preservar as instituições que garantam e defendam a democracia desse país. Se a gente for destruir aquilo que a gente não gosta, não vai sobrar nada.”
Críticas e Propostas de Investigação
Do outro lado, há quem defenda que uma revisão dos métodos, critérios e normas de conduta do Judiciário é necessária. Um dos nomes que lidera esse debate é o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), candidato à reeleição.
Vieira, que já em 2019 propôs uma CPI do Judiciário apelidada de “Lava Toga”, anunciou em suas redes sociais que, após o recesso parlamentar em fevereiro, pretende coletar assinaturas para investigar notícias sobre um contrato de 129 milhões de reais entre o banco Master e o escritório da família do ministro Alexandre de Moraes. As reportagens que revelaram o caso foram assinadas pelos jornalistas Lauro Jardim e Malu Gaspar.
O senador afirma que o valor está “fora do padrão da advocacia” e que há indícios de atuação direta do ministro em favor do banco. A iniciativa promete reacender o debate sobre a conduta e a transparência no alto escalão do Judiciário.
Um Desgaste Inevitável e os Riscos Institucionais
Analistas políticos avaliam que, mais do que previsível, o desgaste do Supremo se tornou inevitável no atual cenário. A exposição do tribunal no calor da campanha eleitoral coloca em risco a percepção de neutralidade e independência do Poder Judiciário, um pilar fundamental para a democracia.
A convergência de críticas ao STF, que parte de setores diversos do espectro político, cria um terreno fértil para propostas de reforma. No entanto, especialistas alertam que o debate precisa ser conduzido com cuidado, para que a busca por ajustes não se transforme em um ataque destrutivo às instituições, como alertou o presidente Lula.
A história do STF remonta a 1808, com a decisão do príncipe regente João VI de transformar o antigo Tribunal da Relação do Rio de Janeiro na Casa da Suplicação do Brasil. Agora, 217 anos depois, a corte enfrenta seu maior desafio político e de imagem, no centro do palco da disputa pelo poder em 2026.