Vazamento revela ligação de enviado de Trump com assessor do Kremlin
Vazamento: enviado Trump dá dicas a assessor russo

A agência Bloomberg divulgou nesta terça-feira, 25 de novembro de 2025, a transcrição completa de uma polêmica conversa telefônica entre o enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, e o assessor de política externa da Rússia, Yuri Ushakov.

O diálogo ocorreu em 18 de outubro, poucos dias após a entrada em vigor do acordo entre Israel e Hamas, e revela orientações do representante americano sobre como o Kremlin poderia aproveitar o momento para negociar um acordo favorável sobre a guerra na Ucrânia.

Estratégia para aproximação com Trump

Durante a conversa, Witkoff sugeriu explicitamente que Ushakov deveria orientar o presidente russo Vladimir Putin a elogiar publicamente Donald Trump pela conquista do acordo de Gaza.

"Eu faria a ligação e reiteraria que você parabeniza o presidente por essa conquista, que você a apoiou, que você o respeita por ser um homem de paz", afirmou o enviado americano, segundo a transcrição.

Witkoff ainda mencionou que o republicano é conhecido por "baixar a guarda quando elogiado", indicando que essa seria uma estratégia eficaz para criar um ambiente propício às negociações.

Proposta de plano de paz de 20 pontos

O enviado americano propôs a criação de um plano de paz de 20 pontos para o conflito entre Rússia e Ucrânia, similar ao que havia sido elaborado para Gaza.

"Estou até pensando que talvez possamos elaborar uma proposta de paz de 20 pontos, assim como fizemos em Gaza", disse Witkoff durante a conversa.

O assessor russo demonstrou concordância com a ideia e adiantou que Putin "vai parabenizar, vai dizer que o Sr. Trump é um verdadeiro homem da paz".

Revelações sobre concessões territoriais

Em um dos momentos mais reveladores da conversa, Witkoff mencionou o que seria necessário para chegar a um acordo de paz:

"Eu sei o que será necessário para chegar a um acordo de paz: Donetsk e talvez uma troca de territórios em algum lugar", afirmou o enviado americano.

Esta declaração sugere que já havia discussões sobre possíveis concessões territoriais ucranianas como parte de um acordo de paz, um ponto extremamente sensível no conflito que começou em fevereiro de 2022.

Segunda ligação revela estratégia russa

A Bloomberg também divulgou uma segunda conversa telefônica entre Ushakov e o oficial russo Kirill Dmitriev, onde discutiram como influenciar os americanos para promover um plano de paz que favorecesse os interesses do Kremlin.

Entre as concessões desejadas pela Rússia estavam:

  • Redução da força militar de Kiev
  • Concessão de territórios à Rússia
  • Desistência ucraniana de aderir à OTAN

Dmitriev explicou a estratégia: "Vamos elaborar este documento a partir da nossa posição e eu o repassarei informalmente, deixando claro que é tudo informal".

Contexto das relações de Witkoff com o Kremlin

Esta não é a primeira vez que Steve Witkoff causa desconforto entre os aliados europeus da Ucrânia. Em diferentes ocasiões, o enviado americano irritou parceiros ao atuar em favor do Kremlin após reuniões com altos funcionários russos, incluindo o próprio presidente Putin.

Paralelamente às revelações das conversas, o secretário do Exército dos Estados Unidos, Dan Driscoll, reuniu-se com uma delegação russa em Abu Dhabi para apresentar um plano revisado de 19 pontos - originalmente com 28 - que amenizava pontos mais favoráveis a Moscou.

Esta revisão reflete as críticas da Ucrânia e de outros países europeus sobre as concessões excessivas aos interesses russos nos planos de paz anteriores.