O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira, 25 de novembro de 2025, que está disposto a recorrer ao "jeito difícil" nas relações com a Venezuela caso seja necessário. A declaração foi feita a bordo do Air Force One e ocorre em meio à crescente escalada de tensões entre Washington e Caracas.
Diálogo ou força: a posição de Trump
Questionado sobre sua disposição para conversar com o presidente venezuelano Nicolás Maduro, Trump respondeu de maneira ambígua: "Se pudermos salvar vidas, se pudermos resolver as coisas do jeito fácil, seria bom. E se tivermos que fazer isso do jeito difícil, tudo bem, também". Esta declaração reflete o duplo caminho que a administração americana vem seguindo nas últimas semanas - alternando entre abertura para diálogo e planejamento de ações militares.
O portal de notícias Axios revelou na véspera que Trump planeja conversar diretamente com Maduro por telefone, embora a data ainda não tenha sido definida. Segundo um funcionário do governo americano, o telefonema está "em fase de planejamento".
Cartel de los Soles: a justificativa para ações
A possível conversa telefônica ocorreria após o Pentágono designar o Cartel de los Sones como organização terrorista. Trump afirmou que esta designação daria sinal verde ao governo americano para atacar bens e infraestruturas ligadas a Maduro, a quem acusa de liderar o cartel.
O secretário de Defesa, Pete Hegseth, declarou na semana passada que a decisão de rotular o cartel como terrorista "traz uma série de novas opções para os Estados Unidos". Dois funcionários americanos confirmaram à Reuters que Caracas e Washington mantiveram conversas recentes, mas o status atual das negociações permanece incerto.
Preparações militares e mobilização
Há poucas semanas, militares americanos de alto escalão apresentaram a Trump opções de operações contra Caracas. O secretário de Defesa Pete Hegseth, o chefe do Estado-Maior Conjunto Dan Caine e outros oficiais entregaram planos atualizados que incluíam ataques por terra.
A comunidade de Inteligência dos EUA contribuiu com informações para possíveis ofensivas na Venezuela, que variam em intensidade. Esta movimentação ocorre paralelamente à crescente presença militar americana na América Latina, incluindo:
- Porta-aviões e destróieres com mísseis guiados
- Caças F-35 e um submarino nuclear
- Aproximadamente 6.500 soldados despachados para o Caribe
No final de outubro, Trump revelou que havia autorizado a CIA a conduzir operações secretas dentro da Venezuela, aumentando as especulações em Caracas sobre um possível intento de derrubar Maduro.
Operações antinarcóticos e controvérsias
Os EUA intensificaram os ataques a barcos de organizações que define como terroristas no Caribe e Pacífico. Até o momento, foram 21 bombardeios resultando em 80 mortes. Estas ações geraram alarme entre juristas e legisladores democratas, que as denunciaram como violações do direito internacional.
Trump defende a legalidade dos ataques, argumentando que os EUA já estão em guerra com grupos narcoterroristas da Venezuela. Autoridades americanas afirmam que disparos letais são necessários porque ações tradicionais para prender tripulantes e apreender cargas ilícitas falharam em conter o fluxo de narcóticos.
Entretanto, dados das Nações Unidas contradizem o discurso oficial. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 indica que o fentanil - principal responsável pelas overdoses nos EUA - tem origem no México, não na Venezuela, que praticamente não participa da produção ou contrabando do opioide para o país norte-americano.
Divisão doméstica e opinião pública
Uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada em 14 de novembro revelou que apenas 29% dos americanos apoiam o uso das Forças Armadas para matar suspeitos de narcotráfico sem devido processo judicial. A divisão partidária é evidente:
- Entre republicanos: 58% apoiam, 27% se opõem
- Entre democratas: 75% são contra, 10% a favor
Enquanto isso, os EUA oferecem uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura de Maduro, acusado de liderar o Cartel de los Soles. O presidente colombiano Gustavo Petro também foi alvo de críticas de Trump, sendo chamado de "líder do tráfico de drogas" e "bandido".
As tensões continuam a crescer no Caribe, com Washington justificando sua presença militar como necessário para combater o narcotráfico, enquanto críticos apontam para a desconexão entre as ações e as evidências sobre as verdadeiras rotas do tráfico de drogas para os Estados Unidos.