Túneis da Guerra do Vietnã: 250 km de mapas, armas e cozinhas secretas
Túneis da Guerra do Vietnã guardam mapas e armas

O Globo Repórter desta sexta-feira (21) mergulhou na história para marcar os 70 anos do início da Guerra do Vietnã. A equipe visitou a região de Cù Chi, nas redondezas de Ho Chi Minh, um dos locais mais simbólicos do conflito que mudou o sudeste asiático.

A impressionante rede subterrânea

Transformada em um museu a céu aberto, a área preserva mais de 250 quilômetros de túneis que serviram como base estratégica durante os anos de guerra. Essa engenhosa rede subterrânea, inicialmente criada para a luta contra a França, foi significativamente ampliada para enfrentar as forças dos Estados Unidos.

Os túneis não eram apenas passagens escondidas. Eles funcionavam como verdadeiras aldeias subterrâneas, equipadas com cozinhas, hospitais de campanha e salas de reunião para o planejamento tático. No auge do conflito, cerca de 300 mil pessoas circulavam por esses corredores escuros, incluindo crianças que chegaram a nascer no interior dos túneis.

"Eles passavam semanas aqui, sobrevivendo de água e raízes", revela Trinh Cao Thang, guia local que conhece cada detalhe da história desses corredores da resistência.

Engenhosidade e sobrevivência

Um dos sistemas mais impressionantes era o das cozinhas Hoàng Cầm, especificamente projetadas para esconder a fumaça do cozimento e assim evitar ataques aéreos inimigos. Kim, que atua como guia nos túneis e demonstra como era preparada a mandioca - alimento básico durante o conflito - compartilha as dificuldades enfrentadas: "É difícil mexer com as panelas no escuro".

Além da impressionante infraestrutura de sobrevivência, os túneis foram fundamentais para a estratégia militar dos vietcongs - os guerrilheiros comunistas do sul. As armas chegavam do norte pela famosa trilha Ho Chi Minh, atravessavam as matas do Camboja e eram distribuídas através dessa extensa rede subterrânea.

Operações secretas e esconderijos engenhosos

Cù Chi também foi palco de operações secretas que surpreendiam pelo engenho. Em casas aparentemente comuns, os combatentes escondiam armas sob alçapões cuidadosamente camuflados e até mesmo sob pilhas de tomates em mercados locais.

Em um único porão, mais de duas toneladas de armamentos foram armazenadas durante o conflito - algumas dessas armas ainda permanecem no local como testemunho silencioso da história. Ao lado delas, os visitantes podem ver um mapa detalhado da antiga Saigon que ajudava os guerrilheiros a planejar ataques e definir estratégias contra as bases inimigas.

Foi nesse mesmo local que um grande plano ofensivo começou a ser traçado. Lap, que tinha apenas 12 anos na época, lembra com precisão: "Centenas de americanos viviam nesse bairro, e não pensavam que o lugar mais perigoso seria justamente o mais seguro para alimentar as tropas, levar comida pros soldados na floresta. A missão desse quartel era atacar as 5 maiores bases de Saigon".

Essa impressionante rede de túneis em Cù Chi permanece não apenas como um museu, mas como um poderoso testemunho da resistência e engenhosidade humana em um dos conflitos mais marcantes do século XX.