EUA mobilizam maior força militar no Caribe desde Guerra Fria e acusam Maduro de narcoterrorismo
Tensão EUA-Venezuela atinge nível mais alto desde invasão do Panamá

A crescente tensão diplomática entre os Estados Unidos e a Venezuela desencadeou a maior mobilização de forças militares americanas no Caribe desde o fim da Guerra Fria. O presidente Donald Trump chegou a mencionar abertamente a possibilidade de um conflito armado, em um cenário que especialistas comparam com os eventos que antecederam a invasão do Panamá, em 1989.

Um Paralelo Histórico: Panamá 1989 vs. Venezuela 2024

A última vez que os Estados Unidos enviaram um contingente naval tão expressivo para a região foi há 35 anos, durante a operação que derrubou o líder panamenho Manuel Noriega. Em 20 de dezembro de 1989, cerca de 30 mil soldados americanos invadiram o Panamá na chamada Operação Justa Causa. O estopim foi a morte do tenente da Marinha dos EUA, Robert Paz, em um posto de controle panamenho.

O governo americano justificou a ação acusando Noriega de envolvimento direto com o narcotráfico, uma narrativa que se assemelha à usada hoje contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Noriega foi capturado, levado para Miami e condenado, enquanto a ONU estimou que cerca de 500 civis panamenhos morreram na invasão.

Semelhanças e Diferenças na Estratégia Americana

As semelhanças entre os dois contextos são marcantes. Em ambos os casos, uma prolongada guerra retórica entre Washington e um líder latino-americano escalou para um significativo desdobramento militar. O argumento central dos EUA também se repete: a acusação de que o governante é, na essência, um narcotraficante que ameaça a segurança nacional americana.

Além disso, ambos os países possuem um valor estratégico enorme. O Panamá abriga o Canal do Panamá, rota comercial vital, enquanto a Venezuela detém uma das maiores reservas de petróleo do mundo.

No entanto, as diferenças são profundas. O contexto da Guerra Fria, que permeava a ação em 1989, deu lugar a um cenário geopolítico mais complexo no século XXI. As personalidades dos presidentes também contrastam: George H. W. Bush, em 1989, e Donald Trump, em 2024.

Enquanto as acusações contra Noriega foram sustentadas por evidências robustas apresentadas em tribunal, incluindo testemunhos de membros do Cartel de Medellín, as acusações contra Maduro são mais contestadas. Washington o acusa de chefiar o chamado Cartel de los Soles, supostamente formado por militares de alta patente. Analistas, porém, questionam se se trata de uma organização formal ou de uma rede flexível de corrupção.

A Estratégia do "Narcoterrorismo" e os Ataques Controversos

A administração Trump adotou o termo "narcoterrorismo" como pilar de sua estratégia contra Maduro. Baseando-se nesse conceito legalmente controverso, os EUA justificaram ataques aéreos letais contra supostas embarcações de tráfico de drogas no Caribe.

Um desses ataques, ocorrido em 2 de setembro, gerou polêmica internacional. Dois sobreviventes de um ataque inicial teriam sido mortos em um segundo ataque, levando a acusações de execuções extrajudiciais. O Pentágono defende a legalidade das ações, mas resiste a divulgar os vídeos e os pareceres jurídicos completos sobre o incidente.

As acusações de envolvimento com drogas atingem o círculo íntimo de Maduro. Em 2015, dois de seus sobrinhos por afinidade, Francisco Flores de Freitas e Efraín Antonio Campo Flores, foram presos no Haiti em uma operação da DEA ao tentarem contrabandear 800 kg de cocaína para os EUA. Recentemente, o Tesouro americano impôs novas sanções a eles e a um terceiro sobrinho, Carlos Erik Malpica Flores.

Uma Situação Explosiva com Futuro Incerto

A tensão continua a escalar. Recentemente, forças americanas apreenderam um petroleiro carregado com petróleo venezuelano. Em suas declarações, Trump sugeriu que, após controlar o ar e o mar ao redor da Venezuela, o próximo passo seria o controle do território terrestre.

Embora ainda exista esperança por uma solução negociada, o exame do caso panamenho serve como um alerta. A morte de um único tenente, Robert Paz, foi o estopim para uma invasão em larga escala. No cenário atual venezuelano, um incidente similar poderia detonar uma crise de proporções imprevisíveis. A situação permanece explosiva, com o potencial de se transformar, a qualquer momento, em um conflito aberto e muito maior.