Um novo plano de paz para a Guerra da Ucrânia, desenvolvido pelo governo de Donald Trump, foi combinado previamente com a Rússia e representa uma significativa derrota para o presidente ucraniano Volodimir Zelenski. A proposta, divulgada nesta quarta-feira (19), foi confirmada por múltiplos vazamentos para veículos internacionais.
Os termos do acordo que beneficiam Moscou
Segundo informações obtidas pelo site americano Axios e confirmadas pelo Financial Times e Reuters, o plano prevê concessões territoriais substanciais à Rússia. A proposta inclui a entrega dos 15% restantes da região de Donetsk, que atualmente é palco de batalhas cruciais que podem colapsar as defesas ucranianas.
Com essa transferência, estaria completa a tomada do Donbass, região russófona que sempre foi prioritária para o Kremlin. As linhas de frente em Zaporíjia e Kherson, outras duas áreas anexadas ilegalmente pela Rússia em 2022, ficariam congeladas e sujeitas a negociações futuras.
Atualmente, Vladimir Putin ocupa aproximadamente 20% de todo o território ucraniano, incluindo os 7,3% que já controlava na Crimeia anexada e nas áreas do leste sob domínio de separatistas desde o conflito iniciado em 2014.
Desmilitarização e limitações armamentistas
Mais impactante que as perdas territoriais é a adoção dos termos rigorosos que a Rússia chama de "necessária desmilitarização da Ucrânia". O acordo prevê o corte das Forças Armadas ucranianas pela metade, embora permaneça incerto se isso se refere ao contingente atual de 980 mil soldados mobilizados ou ao nível pré-guerra, inferior a 200 mil.
Além disso, a Ucrânia teria que renunciar a armas ofensivas capazes de atingir alvos em território russo. Esta limitação abrange tanto os mísseis de cruzeiro e drones domésticos desenvolvidos pelo país quanto modelos ocidentais avançados como os ATACMS, recentemente utilizados em um ataque contra Voronej, no sul russo.
Significativamente, não há menção a armas europeias como o míssil Taurus alemão ou os Storm Shadow/Scalp-EG franco-britânicos, sugerindo que os parceiros continentais da OTAN não foram informados sobre os termos combinados.
Reações internacionais e crise ucraniana
O governo do Reino Unido, questionado pela Reuters sobre o plano, afirmou compartilhar o desejo de Trump pela paz, mas espera a improvável retirada russa. A notícia chega em um momento particularmente delicado para Zelenski, que demitiu dois ministros acusados em um escândalo de desvio milionário no setor de energia.
Enquanto o presidente ucraniano anuncia parcerias com a Europa, incluindo a intenção de comprar 150 caças suecos Gripen e 100 franceses Rafale, a dependência de armamentos americanos se mantém crítica. Dados do Instituto Kiel da Alemanha revelam que o envio de ajuda militar caiu 43% na média mensal desde que Trump assinou o programa que permite aos europeus comprarem armas para Kiev.
Os vazamentos mencionam 28 pontos no total, muitos deles detalhes que agradam ao Kremlin, incluindo o status de língua oficial para o russo e a proteção da Igreja Ortodoxa de Moscou na Ucrânia.
Negociações diretas e isolamento ucraniano
O plano foi amarrado entre Steve Witkoff, enviado de Trump para o conflito, e negociadores russos não identificados. O Financial Times revela que Witkoff apresentou a proposta verbalmente, não por escrito, a Rustem Umerov, secretário do Conselho de Segurança da Ucrânia e ex-ministro da Defesa, durante um encontro em Miami.
Zelenski e Trump ainda não comentaram publicamente o caso. Enquanto isso, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, limitou-se a dizer que não houve avanços desde que o americano cancelou a cúpula que faria com Putin em Budapeste, mas afirmou que Witkoff "será bem-vindo" em Moscou.
O presidente ucraniano visitou nesta quarta-feira seu colega turco Recep Tayyip Erdogan e reiterou que está pronto para retomar negociações diplomáticas. Ele se reunirá com autoridades militares americanas em Kiev nesta quinta-feira (20), embora Witkoff tenha desistido de participar devido à insistência de Zelenski em incluir negociadores europeus.
A fragilidade política do líder ucraniano tem feito Washington tratá-lo com maior distanciamento, em um contexto onde a proposta de paz parece alinhar-se cada vez mais com a visão russa do conflito.