O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, formalizou um pedido de perdão ao presidente Isaac Herzog neste domingo (30), em meio a um processo judicial que investiga suposto esquema de corrupção. A informação foi confirmada pelo gabinete da Presidência israelense.
Pedido extraordinário com implicações significativas
Em comunicado oficial, o Escritório da Presidência reconheceu a natureza incomum da solicitação. "O Escritório da Presidência está ciente de que se trata de uma solicitação extraordinária, que carrega implicações significativas", afirmou a nota. O texto acrescenta que, após receber todos os pareceres relevantes, o presidente considerará o pedido "de forma responsável e sincera".
Netanyahu, que sempre negou as acusações, justificou seu pedido em vídeo divulgado nas redes sociais. O premiê argumentou que encerrar o caso imediatamente poderia avançar a "tão necessária reconciliação" de Israel. Embora afirmasse que seu interesse pessoal seria concluir o trâmite judicial até o fim, reconheceu que a "realidade e o interesse nacional" demandam outro cenário.
Processo com múltiplas acusações
O primeiro-ministro israelense responde a um processo no qual é acusado de envolvimento em esquema de corrupção. Em 2019, foi formalmente indiciado por acusações relacionadas a suborno, fraude e quebra de confiança - crimes que ele continua negando veementemente.
O julgamento teve início em maio de 2020 e tem sido adiado várias vezes desde então. Em um dos processos, Netanyahu e sua esposa, Sara Netanyahu, são acusados de ter recebido presentes de luxo avaliados em mais de US$ 260 mil (aproximadamente R$ 1,4 milhão) de empresários bilionários em troca de favores políticos. Os presentes incluíam charutos, joias e champanhe.
Em outros dois casos, o premiê responde por supostas tentativas de obter cobertura jornalística favorável em dois veículos de imprensa israelenses em troca de benefícios regulatórios ou políticos.
Apoio internacional e contexto político
Um dos aliados mais próximos de Netanyahu, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, manifestou apoio público ao premiê israelense. No início deste mês, Trump enviou carta a Herzog pedindo que considerasse o indulto a Netanyahu.
Na correspondência divulgada pelo gabinete de Herzog, Trump escreveu: "Embora eu respeite plenamente a independência do sistema judiciário israelense e suas exigências, acredito que este caso contra Bibi, que lutou ao meu lado por tanto tempo, inclusive contra o Irã, seja uma perseguição política injustificada".
Durante visita a Israel em outubro, Trump já havia defendido publicamente que Herzog concedesse o perdão a Netanyahu em discurso no Parlamento, em Jerusalém. Na ocasião, o americano foi recebido com aplausos e elogiou o premiê por sua "grande coragem e patriotismo".
Contexto mais amplo e críticas
Netanyahu tem sido criticado por supostamente prolongar a guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza para se proteger contra uma eventual ordem de prisão ao permanecer no poder. Mais de 68 mil palestinos já foram mortos no conflito, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo grupo terrorista.
Além dos problemas domésticos, a imagem do premiê sofreu novo desgaste no ano passado, quando o Tribunal Penal Internacional emitiu mandado de prisão contra ele e seu ex-ministro de Defesa Yoav Gallant, juntamente com um líder do Hamas, por supostos crimes de guerra no conflito em Gaza.
Embora o cargo de presidente em Israel seja majoritariamente cerimonial, Herzog tem autoridade para conceder perdões em circunstâncias excepcionais. A decisão sobre o pedido de Netanyahu promete ter profundas repercussões na política israelense e nas relações internacionais do país.