Encontro bilateral tenta superar polêmica
O primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, encontrou-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste sábado (22) durante a cúpula do G20 em Joanesburgo, na África do Sul. O principal tema do encontro bilateral, que durou pouco mais de meia hora, foi a declaração polêmica feita por Merz sobre Belém após a COP30.
Merz afirmou a Lula que não teve a intenção de ofender a cidade de Belém nem os brasileiros quando expressou alívio por retornar ao seu país depois da conferência climática. Entretanto, o líder alemão não chegou a se desculpar formalmente pela declaração que causou mal-estar político no Brasil.
Repercussão da declaração polêmica
A fala do premiê alemão, na qual disse que todos ficaram felizes em ir embora "daquele lugar", gerou reações imediatas de políticos brasileiros. O prefeito de Belém, Igor Normando (MDB), o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD) manifestaram indignação.
Paes foi particularmente contundente, referindo-se a Merz como "filhote de Hitler vagabundo" nas redes sociais. A declaração também causou desconforto na oposição alemã, que pressionou o primeiro-ministro sobre o caso.
Durante o encontro com Merz, Lula destacou as belezas de Belém, a culinária local e as danças típicas da região amazônica, numa clara demonstração de orgulho pelas atrações que o líder alemão havia menosprezado.
Acordo sobre fundo florestal e reconciliação
Além da polêmica sobre Belém, a reunião tratou de temas substantivos nas relações entre os dois países. Um dos pontos centrais foi o apoio alemão ao TFFF (Fundo para Preservação das Florestas Tropicais), lançado pelo Brasil durante a COP30.
O governo alemão anunciou na última quarta-feira (21) que destinará € 1 bilhão para a iniciativa. Segundo o Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha, o mecanismo exato de contribuição ainda está sendo avaliado, mas a expectativa é que o valor "seja um catalisador para mais financiamento privado".
Carsten Schneider, ministro do Meio Ambiente alemão, havia descrito o aporte como "subvenção, não investimento", indicando que a Alemanha coloca recursos no fundo sem expectativa de retorno, similar a uma doação. Ele também destacou que 20% dos recursos serão destinados diretamente às populações indígenas que vivem e dependem da floresta.
A proposta original do governo brasileiro é levantar US$ 25 bilhões com países, valor que alavancaria outros US$ 100 bilhões de investidores privados. Os recursos aplicados em papéis de mercado gerariam rendimentos para remunerar tanto os investidores quanto os países que preservarem suas florestas.
Sinalizações de reconciliação
Após a reunião, Merz fez uma publicação em rede social onde escreveu: "Foi um prazer revê-lo hoje, presidente Lula". Os dois haviam estado juntos na capital paraense no último dia 7 para a Cúpula de Líderes que antecedeu a COP30.
O primeiro-ministro alemão também sinalizou uma reaproximação: "Na próxima vez que estiver em Belém, explorarei mais - desde os passos de dança à gastronomia local e à floresta tropical". Ele acrescentou que espera "fortalecer ainda mais nossa relação de parceria e amizade".
Merz descreveu a reunião com Lula como "ótima" e revelou que o presidente brasileiro visitará Hanover, na Alemanha, em abril de 2026, para uma feira industrial. "Somos amigos próximos. Estou realmente ansioso para encontrá-lo várias vezes no futuro", afirmou o líder alemão.
O governo alemão minimizou a polêmica sobre Belém e confirmou que Merz não vai se desculpar formalmente. Um porta-voz afirmou não ver danos na relação entre os países, enquanto o gabinete de Lula revelou que o primeiro-ministro alemão experimentou e gostou de comida brasileira durante sua estadia.