Lula no G20 defende taxação de super-ricos e transição energética
Lula no G20: transição energética e taxação de ricos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou ativamente da Cúpula de Líderes do G20 em Joanesburgo, na África do Sul, onde fez duras críticas aos gastos militares globais e defendeu um novo modelo econômico baseado na transição energética e no crescimento inclusivo.

Discurso sobre mudanças climáticas

Durante sua intervenção na sessão dedicada à redução de riscos de desastres e mudanças climáticas, Lula afirmou que o G20 tem responsabilidade central no desenvolvimento de um novo modelo econômico. O grupo, que responde por 77% das emissões globais, deve liderar a transição para uma economia mais sustentável.

"É inconcebível que não sejamos capazes de mobilizar 1 trilhão e 300 bilhões de dólares em financiamento climático, enquanto o dobro desse montante é consumido por despesas militares", criticou o presidente durante o tradicional "foto de família" do grupo.

Lula destacou que o mundo entrou em uma nova etapa que exige esforços simultâneos em duas frentes: acelerar as ações contra as mudanças climáticas e preparar-se para uma nova realidade climática.

COP30 e desafios climáticos

O presidente lembrou que, sob a condução do Brasil, as nações estão concluindo as negociações da COP30. No entanto, reconheceu as críticas de representantes da sociedade civil sobre a falta de ambição para atingir as metas do Acordo de Paris.

Um dos principais pontos de frustração foi a ausência de um mapa do caminho para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. O governo brasileiro insistiu na aprovação de um texto com propostas concretas para a transição energética.

"A COP30 mostrou que o mundo precisa enfrentar esse debate. A semente dessa proposta foi plantada e irá frutificar mais cedo ou mais tarde", afirmou Lula aos líderes do G20.

Investimentos em resiliência climática

Lula citou o documento "Princípios Voluntários para Investir em Redução de Risco de Desastres", aprovado sob a liderança sul-africana, que enfatiza a necessidade de financiamento de longo prazo para prevenção e resposta a desastres.

O presidente alertou que sistemas de alerta precoce não são suficientes e que as mudanças climáticas testarão infraestruturas críticas como pontes, rodovias e linhas de transmissão.

"Construir resiliência não é gasto, é investimento. Para cada dólar investido em adaptação, ganham-se quatro dólares em prejuízos evitados e outros benefícios sociais e econômicos", argumentou.

Combate à desigualdade e fome

Em outra sessão da cúpula, dedicada ao crescimento econômico sustentável e inclusivo, Lula defendeu a taxação de super-ricos e a troca de dívidas de países pobres por investimentos em desenvolvimento e ação climática.

"Está na hora de declarar a desigualdade uma emergência global e redesenhar regras e instituições que sustentam assimetrias", disse o presidente, apoiando a proposta da África do Sul de criação de um Painel Independente sobre Desigualdade.

Lula também apresentou a Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas, lançada durante a COP30. O documento reforça três compromissos:

  • Fortalecer a proteção social
  • Apoiar pequenos produtores
  • Garantir alternativas de vida sustentáveis para comunidades florestais

Agenda bilateral e multilateral

Durante sua estadia em Joanesburgo, Lula manteve uma reunião bilateral com o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, onde o parabenizou pela condução do G20. Ramaphosa, por sua vez, elogiou a realização da COP30 no Brasil.

Os dois líderes concordaram que os êxitos da COP30 e da Cúpula do G20 representam ativos essenciais para o fortalecimento do multilateralismo. Lula convidou Ramaphosa para uma visita de Estado ao Brasil no início de 2026.

Neste domingo (23), Lula participa de mais uma sessão do G20 sobre minerais críticos, trabalho decente e inteligência artificial. Também está prevista uma reunião entre os líderes do Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (Ibas).

Após a cúpula, o presidente embarca para Maputo, capital de Moçambique, onde fará uma visita de trabalho na segunda-feira (24), como parte das comemorações de 50 anos das relações diplomáticas entre os dois países.