Lula alerta sobre risco do G20 após boicote dos EUA à cúpula
Lula: G20 em risco após boicote dos EUA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um alerta contundente durante a cúpula do G20 em Joanesburgo, na África do Sul. Segundo o mandatário brasileiro, o grupo internacional corre sério risco de perder sua capacidade de atuação após a decisão dos Estados Unidos de boicotar os debates principais do encontro.

Boicote americano ameaça relevância do G20

Em pronunciamento realizado na sexta-feira, Lula deixou claro que o funcionamento do G20 como espaço de coordenação internacional está ameaçado. Embora não tenha citado diretamente os Estados Unidos, a referência ao boicote foi evidente.

O presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou que não participaria dos debates após fazer acusações contra o governo sul-africano no início de novembro. Trump afirmou que sul-africanos brancos estariam sendo mortos e tendo terras confiscadas ilegalmente - alegações que foram veementemente rejeitadas pelas autoridades da África do Sul.

Com a decisão de Washington, o país será representado apenas pelo encarregado de negócios da embaixada em Pretória, Marc Dillard, na cerimônia de domingo. A data é especialmente significativa, pois marca a transição da presidência rotativa do G20 da África do Sul para os Estados Unidos, que assumem o comando em 1º de dezembro.

Defesa do diálogo global e alertas sobre desigualdade

Durante seu discurso, Lula defendeu com vigor que o bloco mantenha seu papel como espaço fundamental para enfrentar os principais desafios globais. O presidente brasileiro citou especificamente o impacto da guerra da Ucrânia nas cadeias de energia e alimentos, além das dificuldades estruturais que continuam sem perspectiva de solução na América Latina e no Caribe.

O mandatário fez um alerta grave sobre problemas que já configuram ameaças sistêmicas ao desenvolvimento global. A desigualdade extrema e a sobrecarga de dívidas públicas foram destacadas como questões urgentes que demandam atenção imediata.

Lula apresentou um dado preocupante: quase metade da população mundial vive em países que gastam mais com o serviço da dívida do que com saúde ou educação. Diante dessa realidade, o presidente defendeu a criação de mecanismos que permitam trocar dívidas por investimentos em desenvolvimento e ações climáticas.

Chamado para ação global

O presidente brasileiro foi além dos diagnósticos e fez propostas concretas. Ele pediu que a desigualdade seja tratada como uma emergência global e que normas e instituições internacionais sejam reformuladas para reduzir assimetrias entre países ricos e pobres.

A cúpula do G20, que se encerra no domingo, discute temas cruciais como crescimento econômico sustentável, comércio internacional, financiamento para o desenvolvimento e o endividamento dos países mais pobres.

Criado em 1999, o G20 reúne 19 nações - incluindo Brasil, Estados Unidos, China, Índia e Alemanha - além da União Europeia e da União Africana. A ausência americana nos debates principais representa um desafio significativo para a continuidade do grupo como fórum de discussão global.