A administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um passo inédito na sua relação conturbada com a mídia. Nesta segunda-feira, 1º de dezembro de 2025, a Casa Branca lançou oficialmente uma página em seu portal na internet dedicada a expor veículos de comunicação e profissionais da imprensa que publicam reportagens consideradas desfavoráveis ao governo.
Uma plataforma de acusações
Apresentada como uma ferramenta de "checagem de fatos", a nova seção do site do governo foi batizada de "Enganador, Enviesado, Exposto". Nela, são listados os chamados "infratores da mídia" da semana, com destaque individual para jornalistas responsáveis por matérias que o governo classifica como "enganosas e tendenciosas".
Entre os primeiros alvos da iniciativa estão grandes nomes do jornalismo norte-americano e internacional, como The Boston Globe, CBS News e o britânico The Independent. Para cada reportagem criticada, é criada uma página específica sobre o repórter responsável, detalhando as supostas "acusações, infrações e a verdade", segundo a versão oficial.
O ranking e o caso Fox News
O site vai além da lista semanal. Ele também apresenta um ranking dos veículos considerados "mais distorcidos" do país, atualmente liderado pelo Washington Post. Além disso, há uma coleção de slides em PowerPoint e uma lista de jornalistas classificados como "reincidentes".
Um episódio curioso marcou o lançamento. A Fox News, emissora historicamente aliada de Trump, apareceu inicialmente no que foi chamado de "Hall da Vergonha". No entanto, horas depois, seu nome foi removido. De acordo com o próprio Washington Post, o sistema de monitoramento da Casa Branca teria atribuído erroneamente perguntas de outro repórter a um jornalista da Fox. Após protestos da emissora, a entrada foi deletada e agora redireciona para uma página de erro.
Contexto de tensão crescente
O lançamento desta plataforma ocorre em um momento de alta tensão entre o governo Trump e a imprensa. A decisão foi tomada logo após a repercussão de um vídeo no qual legisladores democratas sugeriram que militares deveriam desobedecer ordens ilegais. Irritado com a cobertura do caso, Trump publicou em sua rede social, Truth Social, que os congressistas tiveram um comportamento "sedicioso punível com a morte".
Em nota, a Casa Branca justificou a nova página: "Os democratas e a mídia de notícias falsas insinuaram subversivamente que o presidente Trump havia emitido ordens ilegais para membros das Forças Armadas. Todas as ordens emitidas pelo presidente Trump foram legais".
Desde seu retorno à presidência, Trump intensificou o ataque a veículos de comunicação. Diversos dos meios citados na nova plataforma enfrentam processos judiciais bilionários movidos pelo republicano. A retórica hostil também se manifesta em outros fronts. Na semana passada, o presidente chamou uma repórter de "idiota" durante um questionamento sobre declarações relativas a afegãos que entraram no país.
Este incidente ocorreu poucos dias após um ex-colaborador do Exército americano, nascido no Afeganistão, ter matado uma integrante da Guarda Nacional a poucos quarteirões da Casa Branca. Em outubro, a relação já mostrava sinais de ruptura quando jornalistas abandonaram uma coletiva no Pentágono. O motivo foi a tentativa do Departamento de Defesa de impor uma nova norma de acesso a informações, considerada excessivamente restritiva por grandes redes como ABC, CBS, NBC e até pela conservadora Fox News.
A criação de um espaço oficial dentro do portal do governo para expor e criticar jornalistas individualmente é vista por analistas como um marco sem precedentes, levantando debates acalorados sobre os limites da liberdade de imprensa e o uso de ferramentas estatais para confrontar a mídia.