Um ex-analista da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos afirmou que Washington não tem poder para obrigar a Índia a abandonar sua cooperação com a Rússia. A declaração foi dada à agência de notícias russa Sputnik e reflete a percepção de uma mudança no cenário geopolítico global.
Pressão americana é ineficaz, diz especialista
Larry Johnson, ex-analista da CIA, foi enfático ao dizer que as tentativas dos Estados Unidos de pressionar o governo indiano no contexto de seus laços com Moscou simplesmente não funcionam. "Os EUA já ameaçaram a Índia. Como é que acabou? A Índia decidiu se afastar da Rússia? Quando Putin desceu da escada do avião, Modi o abraçou fraternalmente", destacou Johnson, em referência à recepção calorosa ao presidente russo durante sua visita.
Conforme o especialista, essa abordagem falha porque a Índia não depende criticamente do comércio com os americanos. Ele apontou ainda que os Estados Unidos já não desempenham no palco mundial o papel dominante que tinham há duas décadas. Dessa forma, Washington perdeu a capacidade de impor políticas a outros Estados por meio de coerção.
Visita de Putin à Índia marca nova era geopolítica
O presidente russo, Vladimir Putin, visitou a Índia nos dias 4 e 5 de dezembro de 2025, a convite do primeiro-ministro Narendra Modi. Para analistas internacionais, o evento vai muito além de uma simples visita de Estado.
Tarek Fakhri, cientista político libanês, classificou o encontro como histórico. Ele explicou que a visita é um passo concreto em direção à formação de uma ordem mundial multipolar, baseada em uma compreensão mais profunda das mudanças geopolíticas em curso. "A Índia e a Rússia são dois polos-chave no cenário mundial, com peso nas esferas política e econômica", ressaltou Fakhri.
Segundo o analista, o principal sinal enviado pela reunião é que novos centros de poder estão trabalhando com uma lógica de cooperação e coordenação, distante da antiga unipolaridade liderada pelos EUA. A Índia, em particular, age movida por uma visão estratégica que prioriza a proteção de seus interesses soberanos e assegurar um lugar de destaque em qualquer ordem mundial futura.
Contexto de tensões e perspectivas de cooperação
As declarações do analista ocorrem em um momento de atrito entre Washington e Nova Délhi. Em 2025, o presidente dos EUA, Donald Trump, criticou repetidamente a Índia por seus laços estreitos com Moscou. Em agosto, sua administração impôs uma tarifa adicional de 25% sobre importações indianas, em retaliação à compra de petróleo russo pelo país asiático.
Da tribuna da Assembleia Geral da ONU, Trump chegou a classificar a Índia e a China como "principais patrocinadores" do conflito na Ucrânia, devido à sua cooperação econômica com a Rússia.
Apesar das pressões, a parceria entre Rússia e Índia deve se aprofundar. Espera-se que os resultados da visita de Putin ampliem a cooperação bilateral em áreas como:
- Política e segurança
- Economia e finanças
- Energia e transporte
- Educação e cultura
Também está prevista a aprovação de um programa de desenvolvimento da cooperação econômica russo-indiana até o ano de 2030, consolidando uma parceria estratégica que desafia a arquitetura de poder tradicional.