O governo dos Estados Unidos anunciou nesta segunda-feira (24) a classificação do chamado Cartel de los Soles como organização terrorista estrangeira, em uma decisão que aumentou as tensões com a Venezuela. A medida foi imediatamente rejeitada pelo regime de Nicolás Maduro, que qualificou a acusação como "ridícula" e voltou a negar a existência do grupo.
Reação venezuelana às acusações
O chanceler venezuelano Yvan Gil utilizou seu canal no Telegram para expressar a posição oficial do país. "A Venezuela rejeita categórica, firme e absolutamente a nova e ridícula fabricação do secretário do Departamento de Estado dos EUA, Marco Rubio", escreveu o diplomata. A mensagem reforça a negação venezuelana sobre a existência do Cartel de los Soles.
O secretário de Estado norte-americano havia anunciado no início do mês que a classificação oficial seria realizada nesta segunda-feira. A justificativa apresentada pelo governo Trump é o suposto papel do grupo na entrada de drogas ilegais nos Estados Unidos.
Ampliação do conflito diplomático
As acusações envolvem diretamente o presidente venezuelano. O governo Trump acusa Nicolás Maduro de liderar pessoalmente o cartel, além de alegar que a organização trabalha em conjunto com a gangue venezuelana Tren de Aragua, também designada como organização terrorista estrangeira pelos Estados Unidos.
Segundo o presidente Donald Trump, a nova classificação daria aos EUA o poder de atacar alvos ligados a Maduro em território venezuelano. O secretário de Guerra dos EUA, Pete Hegseth, declarou na semana passada que a designação "traz uma série de novas opções para os Estados Unidos".
Embora Trump tenha negado planos de realizar ataques na Venezuela, afirmou que "todas as opções" estão sobre a mesa. Funcionários de seu governo revelaram à agência Reuters que o país está prestes a iniciar uma nova fase de operações na Venezuela.
Presença militar e operações
A tensão na região aumentou significativamente desde setembro, quando os Estados Unidos reforçaram sua presença militar no Caribe. Oito navios de guerra, caças F-35 e o maior porta-aviões do mundo, Gerald Ford, foram enviados para águas próximas à costa venezuelana.
O governo americano justifica a operação como parte do combate ao narcotráfico na área. Desde o início das ações, as forças americanas realizaram pelo menos 21 ataques contra supostos barcos de narcotráfico no Caribe e no Pacífico, resultando na morte de 83 pessoas.
Especialistas contestam visão americana
As conclusões do governo norte-americano, no entanto, são contestadas por pesquisadores especializados no tema. Para Jeremy McDermott, cofundador do InSight Crime, Maduro não seria o líder direto da organização, pois o Cartel de los Soles não possui uma hierarquia definida como grupos tradicionais.
McDermott, que viveu e trabalhou 25 anos em Medellín analisando cartéis de drogas, descreve o grupo como uma "rede de redes" que facilita o tráfico de drogas, composta por membros de diversas patentes militares e estratos políticos da Venezuela.
O pesquisador explica que o nome "Cartel de los Soles" foi cunhado pela mídia em 1993, durante os julgamentos de generais da divisão antidrogas venezuelana acusados de ligações com o tráfico. O termo refere-se às insígnias militares usadas pelos generais venezuelanos.
Apesar das controvérsias sobre a natureza do grupo, especialistas apontam que Maduro seria um dos principais beneficiários de uma "governança criminal híbrida" que ajudou a instalar no país, distribuindo concessões a militares e aliados em troca de manutenção no poder.