Um destróier norte-americano interceptou um petroleiro russo que transportava combustível para a Venezuela, forçando a embarcação a alterar sua rota inicial. O incidente, ocorrido em 13 de novembro, representa mais um capítulo na escalada de tensões entre Washington e Caracas.
Confronto naval no Caribe
O USS Stockdale, navio de guerra dos Estados Unidos, posicionou-se diretamente na trajetória do petroleiro russo Seahorse, que seguia em direção à Venezuela com uma carga de nafta - produto essencial para facilitar o fluxo de petróleo pelos oleodutos venezuelanos. Diante da presença militar americana, a embarcação russa recuou e partiu rumo a Cuba, navegando próximo às águas venezuelanas.
Desde o ocorrido, o Seahorse tentou por duas vezes alcançar seu destino original, mas em ambas as ocasiões foi obrigado a recuar. Atualmente, o petroleiro permanece ancorado no Caribe - uma situação incomum, considerando que os navios russos raramente ficam ociosos nessa rota comercial.
Mark Cancian, consultor sênior de defesa do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, comentou à Bloomberg que "este incidente representa mais um passo na pressão que os EUA estão exercendo sobre o regime de Maduro". Ele acrescentou que "uma redução nas exportações de petróleo prejudicaria gravemente o regime, porque o petróleo é praticamente sua única exportação".
Contexto de tensões crescentes
O episódio ocorre em meio a uma significativa escalada militar na região. Os Estados Unidos deslocaram para o Caribe o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald R. Ford, acompanhado por destróieres com mísseis guiados, caças F-35, um submarino nuclear e aproximadamente 6.500 soldados.
No domingo, 16 de novembro, a Casa Branca anunciou a classificação do Cartel de los Soles - que, segundo autoridades americanas, é liderado pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro - como uma Organização Terrorista Estrangeira. O governo dos EUA oferece uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura do líder chavista.
Em paralelo, intensificaram-se os ataques a barcos de Organizações Terroristas Designadas no Caribe e Pacífico, resultando em 83 mortos. A Organização das Nações Unidas classificou essas ações como "execuções extrajudiciais", gerando alarme entre juristas e legisladores democratas.
Discurso antinarcóticos em questão
O governo Trump justifica suas ações argumentando que os EUA já estão envolvidos em uma guerra com grupos narcoterroristas da Venezuela, o que tornaria os ataques legítimos. Autoridades americanas afirmam que disparos letais são necessários porque ações tradicionais para prender tripulantes e apreender cargas ilícitas falharam em conter o fluxo de narcóticos.
Contudo, dados das Nações Unidas contradizem esse discurso. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 indica que o fentanil - principal responsável pelas overdoses nos EUA - tem origem no México, e não na Venezuela, que praticamente não participa da produção ou contrabando do opioide para o país norte-americano.
O documento também revela que as drogas mais consumidas pelos americanos não têm origem venezuelana. A cocaína, por exemplo, é usada por cerca de 2% da população e vem majoritariamente da Colômbia, Bolívia e Peru.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada em 14 de novembro mostrou que apenas 29% dos americanos apoiam o uso das Forças Armadas dos Estados Unidos para matar suspeitos de narcotráfico sem o devido processo judicial. Entre os republicanos, 58% apoiam a prática, enquanto 27% se opõem. No Partido Democrata, cerca de 75% dos eleitores são contra as operações.
O incidente com o petroleiro russo Seahorse - que é sancionado pelo Reino Unido e pela União Europeia - evidencia a complexidade geopolítica que envolve a crise venezuelana e sugere que a pressão econômica sobre o regime de Maduro continua a se intensificar através de múltiplas frentes.