Iraque vota em meio à pressão EUA-Irã e desilusão com reformas
Eleições no Iraque sob pressão EUA-Irã e desilusão

Iraque realiza eleições parlamentares em clima de desilusão e pressão internacional

Os iraquianos foram às urnas nesta terça-feira, 11 de novembro de 2025, para escolher os 329 membros do Parlamento em um pleito marcado pela desesperança e pela intensa pressão geopolítica entre Estados Unidos e Irã. As eleições ocorrem em um contexto onde Bagdá se encontra encurralada na disputa regional entre Washington e Teerã.

Os locais de votação fecharam às 18h no horário local, equivalente ao meio-dia em Brasília. O processo eleitoral é considerado crucial para o futuro do país, mas enfrenta o desafio do desencanto popular com o sistema político estabelecido após a queda de Saddam Hussein.

Estabilidade econômica versus reformas políticas

Analistas internacionais destacam que o eleitor comum iraquiano tem como principal preocupação manter a estabilidade e o crescimento econômico recente alcançado após duas décadas de turbulências que incluíram insurgências jihadistas, guerras sectárias e ocupação americana.

Este cenário beneficia o atual primeiro-ministro, Mohammed al-Sudani, visto como responsável pela estabilização do país. Buscando um segundo mandato, al-Sudani se apresenta como o líder capaz de equilibrar as tensões entre Washington e Teerã.

As pesquisas indicam que seu bloco político deve conquistar o maior número de cadeiras parlamentares, embora não alcance a maioria absoluta. Essa situação deve resultar em meses de negociações para a formação de um governo de coalizão e a seleção de um novo premiê.

Pressão geopolítica e milícias pró-Irã

Os Estados Unidos têm pressionado o governo iraquiano para conter a influência do vizinho Irã no país. Embora Bagdá tenha conseguido, até o momento, evitar ser arrastada para a turbulência regional causada pela guerra em Gaza, a Casa Branca insiste para que o governo desarme as poderosas milícias financiadas por Teerã.

Estas dezenas de organizações paramilitares demonstram maior lealdade às suas lideranças do que ao Estado iraquiano, representando um desafio significativo para a soberania do país.

No total, 7.743 candidatos disputam as 329 cadeiras do Parlamento iraquiano. Após o término das eleições, os legisladores iniciarão um complexo processo de formação do novo governo que inclui a eleição do presidente do Parlamento, a nomeação do presidente da República e, finalmente, a indicação do primeiro-ministro.

Crise de confiança e sistema sectário

As eleições de 2025 podem registrar a menor participação em 20 anos, refletindo a deterioração da confiança pública no processo democrático iraquiano. O sistema político permanece marcado pelas divisões sectárias históricas que remontam ao final do regime de Saddam Hussein.

O sistema conhecido como Muhasasa - um acordo informal que divide o poder político entre as três comunidades majoritárias do país (árabes xiitas, árabes sunitas e curdos) - continua dominando a política iraquiana. Este mecanismo garante que o primeiro-ministro seja xiita, o presidente do Parlamento sunita e o presidente da República curdo.

Entre 2019 e 2021, o país testemunhou mobilizações populares contra o Muhasasa, que conseguiram eleger representantes da sociedade civil. No entanto, o movimento perdeu força quando estes novos políticos falharam em desafiar os veteranos da política que ocupam cargos há vários anos.

O eleitorado manifesta profunda desilusão com este sistema, visto como um mecanismo para que a elite política partilhe a riqueza petrolífera do Iraque. A formação de um novo governo deve levar meses, seguindo o padrão estabelecido nas eleições de 2021, quando foram necessários seis meses para selecionar um primeiro-ministro.