As eleições presidenciais em Honduras acontecem neste domingo (30) em um cenário de incerteza e tensão política, com três candidatos empatados tecnicamente nas pesquisas e acusações mútuas de corrupção dominando a campanha.
Triplo empate define disputa presidencial
Segundo a mais recente pesquisa do Instituto Gallup, Salvador Nasralla lidera com 27% das intenções de voto, seguido de perto por Rixi Moncada com 26% e Nasry Asfura com 24%. Outros 18% dos eleitores permanecem indecisos às vésperas da votação.
O pleito ocorre em turno único, o que significa que o resultado de domingo já determinará quem substituirá a atual presidente, Xiomara Castro, que em 2021 levou a esquerda de volta ao poder após 12 anos de governos conservadores.
Perfil dos candidatos em disputa
Rixi Moncada representa a situação como sucessora do projeto esquerdista de Castro e de seu marido, o ex-presidente Manuel Zelaya, deposto em 2009 por um golpe militar. Com passagem como professora, advogada, juíza e ministra de três pastas diferentes, Moncada enfrenta acusações de corrupção relacionadas à sua gestão na empresa estatal de eletricidade e de nepotismo.
Nasry Asfura, conservador e filho de palestinos, concorre pela segunda vez à presidência e recebeu apoio formal do presidente americano Donald Trump na semana passada. Ex-prefeito de Tegucigalpa, Asfura representa o Partido Nacional, manchado pela condenação do ex-presidente Juan Orlando Hernández, e também enfrenta acusações de desvio de fundos e apareceu na lista do Pandora Papers.
Salvador Nasralla, narrador de futebol e estrela da televisão local, tenta pela quarta vez a presidência, desta vez pelo Partido Liberal. O candidato admira Javier Milei pela gestão econômica e Nayib Bukele pela política de segurança, prometendo copiar ambos os modelos em Honduras.
Tensão eleitoral e temor de fraude
Além das propostas, o que mais preocupa os eleitores é o temor de que o pleito seja anulado. Na semana passada, autoridades eleitorais relataram irregularidades durante um teste no sistema de resultados preliminares.
Rixi Moncada já ameaçou não reconhecer o resultado caso os erros persistam, levantando preocupação entre observadores internacionais sobre a legitimidade das eleições.
A missão de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Honduras afirmou que "observou ações e declarações, praticamente diárias, que geram incerteza e desestabilizam o processo eleitoral".
Preocupação com interferência militar
Eleitores também manifestam preocupação com uma possível interferência das Forças Armadas no processo eleitoral. Os militares, que executaram o golpe de Estado que derrubou Manuel Zelaya há 16 anos, solicitaram acesso às atas eleitorais para verificar a contagem de votos.
Embora a Constituição hondurenha limite as Forças Armadas à função de guardar o material das eleições, a solicitação - mesmo rejeitada pelo CNE - gerou temores de intromissão militar.
Maria Méndez Dardón, diretora para a América Central do WOLA, alertou: "É preocupante porque atualmente os militares respondem à presidente, e essa extrapolação de funções pode colocar as eleições em um cenário muito adverso".
Contexto de segurança e influência externa
Honduras registrou no ano passado sua menor taxa de homicídios em 30 anos, mas ainda mantém a mais alta de toda a América Central. A segurança tornou-se um dos pilares da campanha, com Nasralla prometendo construir megaprisões inspiradas no modelo de El Salvador.
A influência de Donald Trump também marcou o pleito. Só em 2025, os Estados Unidos deportaram 27.000 migrantes de Honduras e revogaram o Status de Proteção Temporária de 51.000 hondurenhos.
Cada candidato fez acenos a Trump segundo sua ideologia: Moncada promete respeitar o tratado de extradição com Washington, Nasralla quer romper com a Venezuela, e todos expressaram disposição de se aproximar de Taiwan após Castro restabelecer relações com a China em 2023.