Direita moderada do Chile sofre derrota histórica após flerte com extremismo
Direita chilena em crise após flerte com extremismo

As eleições presidenciais no Chile revelaram uma crise profunda na direita tradicional do país, que sofreu uma derrota histórica no primeiro turno realizado no domingo, 18 de novembro de 2025. A candidata comunista Jeannette Jara emergiu como vencedora da etapa inicial com 26,8% dos votos, enquanto o conservador José Antonio Kast, representante da extrema-direita, obteve 23,9%.

Colapso da centro-direita chilena

O resultado das urnas expôs o colapso dos partidos de centro-direita que governaram o Chile durante a redemocratização. A soma dos votos de todos os candidatos de direita alcançou 50,3%, quase o dobro da votação da candidata de esquerda. No entanto, essa força se mostrou fragmentada e incapaz de produzir um candidato competitivo da tradição moderada.

Mario Desbordes, prefeito de Santiago e ex-presidente do Renovação Nacional, partido fundado há quatro décadas, lamentou publicamente que a centro-direita chilena tenha perdido sua bússola e rumo. Segundo ele, o grupo abandonou a defesa de seu próprio ideário com "um olhar social nítido e responsável".

Paralelos com a realidade brasileira

Analistas políticos identificam aspectos comuns na crise que afeta as direitas tradicional e moderada do Brasil e do Chile. No caso brasileiro, a perda de identidade política começou em 2018, com a explosão do antipetismo que levou à eleição de Jair Bolsonaro.

Na época, o próprio Kast declarou ver em Bolsonaro um modelo de "esperança de liberdade, segurança, desenvolvimento e justiça social num Brasil que foi destruído pela esquerda". Desde então, os partidos de centro-direita brasileira se comportam como reféns eleitorais da extrema-direita alinhada ao agora inelegível Bolsonaro.

Jair Bolsonaro deve se tornar um presidiário nos próximos dias, condenado a 27 anos e 10 meses de prisão por crimes contra a Constituição, incluindo tentativa de golpe de estado.

O segundo turno e o futuro político

O embate decisivo entre Jeannette Jara e José Antonio Kast está marcado para o domingo, 14 de dezembro. A vitória de Jara no primeiro turno demonstra o fôlego eleitoral da coalizão governista comandada pelo presidente socialista Gabriel Boric, de quem ela foi ministra do Trabalho.

Kast, que concorre à presidência pela terceira vez, representa o tradicionalismo católico que seus adversários ironizam como "nacional-catolicismo". Suas propostas incluem "menos impostos, menos governo e pró-vida", além de discursos defendendo que "os chilenos precisam de Deus" e que "o Estado deve promover a religião nas escolas".

A diferença numérica entre os votos da direita e da esquerda tem animado previsões sobre a eventual eleição de Kast no segundo turno. Entretanto, especialistas alertam que o resultado reflete principalmente o final de um ciclo da direita tradicional e moderada chilena, que governou o país em alternância com a esquerda e conquistou o voto da classe média durante décadas.