A possibilidade de uma ação militar dos Estados Unidos contra a Venezuela está elevando a tensão na região do Caribe a níveis não vistos há décadas, configurando um risco geopolítico real e iminente para toda a América Latina. A análise é do economista Igor Lucena, CEO da Amero Group, que aponta movimentações concretas das forças americanas próximas ao território venezuelano.
Escalação Militar e a Conversa Secreta
Os sinais de escalada se intensificaram na última semana, após o ex-presidente americano Donald Trump confirmar um telefonema para Nicolás Maduro. Trump não revelou o conteúdo da conversa, mas também não afastou a hipótese de uma intervenção. Pelo contrário, reafirmou a possibilidade de fechar o espaço aéreo venezuelano, uma medida de peso militar imediato.
Segundo Igor Lucena, há indícios claros de preparativos. "Vamos ter tropas americanas na costa venezuelana. As forças dos EUA devem explodir laboratórios e aumentar a presença militar na região", afirma o especialista. O alvo declarado seriam estruturas ligadas ao narcotráfico, mas as implicações vão muito além.
Isolamento de Maduro e Impactos Imediatos
A resposta de Maduro foi dura. O líder venezuelano pressionou a Assembleia Nacional por uma resposta formal aos "ataques americanos", acusou os EUA de matar venezuelanos em águas internacionais e enviou uma carta à OPEP denunciando que Washington quer "tomar o petróleo venezuelano". No entanto, a correlação de forças mudou.
Um sinal revelador, destacado por Lucena, foi a confirmação de que a Rússia enviará aviões para retirar seus cidadãos da Venezuela. "Esse tipo de operação só acontece quando há risco real à integridade física dessas pessoas", explica. A retirada russa indica que os aliados tradicionais de Caracas – como Rússia, China e Irã – não têm condições ou vontade política de oferecer um escudo protetor no momento atual, deixando Maduro mais vulnerável e isolado do que nunca.
Consequências para a Economia e Segurança da América Latina
O economista é categórico ao afirmar que uma ação militar americana teria um impacto imediato e violento nos mercados financeiros da região. Bolsa de valores como a B3, no Brasil, e as do Chile, Colômbia, Argentina e México sofreriam forte volatilidade. "É um evento que mexe com a América Latina inteira", diz Lucena.
Os efeitos se estenderiam ao câmbio, com investidores fugindo para ativos seguros e moedas latinas despencando. Os preços do petróleo também seriam afetados, dada a importância da Venezuela na oferta global de petróleo pesado. Por fim, há um risco direto à segurança do Brasil, pois operações contra o narcotráfico podem criar rotas alternativas e instabilidade nas fronteiras brasileiras.
A Posição do Brasil e o Cenário de Exílio
Diante do conflito, o governo brasileiro tenta manter uma postura de neutralidade. Porém, segundo a análise de Lucena, o Brasil não tem incentivos para confrontar os EUA. O país depende da boa vontade americana em acordos comerciais, negocia tarifas sensíveis e teme impactos negativos em suas exportações. Além disso, o eleitor brasileiro majoritariamente rejeita um alinhamento automático com Caracas.
Uma saída ainda nebulosa, mas em discussão, seria um exílio negociado para Nicolás Maduro em países como Rússia, Irã, China ou Cuba. Essa possibilidade pode ter sido discretamente apresentada por Washington durante o telefonema. No entanto, se Maduro recusar ou se as negociações fracassarem, o caminho para a escalada militar fica aberto.
O risco de um conflito direto entre Estados Unidos e Venezuela saiu do campo da especulação e entrou no território das probabilidades concretas. Movimentações militares, evacuação de civis, pressão diplomática e declarações públicas apontam todos na mesma direção perigosa. Como resume Igor Lucena: "Se houver uma incursão americana real, a América Latina inteira vai sentir. Esse é o maior risco geopolítico dos últimos cem anos na região."