Uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, realizada nesta terça-feira (23), transformou-se em um palco de duras críticas à política externa dos Estados Unidos para a Venezuela. Convocada a pedido de Caracas, a sessão discutiu o bloqueio naval imposto por Washington, que resultou na apreensão de três petroleiros venezuelanos nas últimas semanas.
Acusações de extorsão e 'comportamento de caubói'
O embaixador venezuelano na ONU, Samuel Moncada, não poupou palavras ao descrever as ações americanas. Ele acusou o governo do presidente Donald Trump de praticar "a maior extorsão" da história do país, ao exigir, segundo sua visão, que os venezuelanos "abandonem seu país e o entreguem". Moncada afirmou que os Estados Unidos estão agindo "à margem do direito internacional".
Os principais aliados do governo de Nicolás Maduro, Rússia e China, ecoaram as críticas. O embaixador russo, Vassily Nebenzia, foi contundente: descreveu o bloqueio como "uma agressão flagrante" que viola normas fundamentais do direito internacional. Ele ainda atribuiu a Washington a responsabilidade pelas "consequências catastróficas dessa atitude de caubói".
Do lado chinês, o representante Sun Lei declarou oposição a "todos os atos de unilateralismo e intimidação". A China reafirmou seu apoio aos países na defesa de sua soberania e dignidade nacional, em uma clara referência ao caso venezuelano.
A defesa americana e a recompensa por Maduro
Em resposta, o embaixador dos Estados Unidos na ONU, Mike Waltz, defendeu as ações de seu governo. Ele reiterou as acusações de que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, é o chefe de uma organização terrorista, o "Cartel de los Soles", e que Caracas usa a venda de petróleo para financiar o narcoterrorismo, tráfico de pessoas e assassinatos. "Os Estados Unidos farão tudo o que estiver em seu poder para proteger nosso hemisfério, nossas fronteiras e o povo americano", declarou Waltz.
A Casa Branca elevou para US$ 50 milhões (cerca de R$ 278 milhões) a recompensa por informações que levem à prisão de Maduro, tratado pelas autoridades americanas como um fugitivo procurado. Especialistas, no entanto, apontam que o alegado cartel funcionaria mais como uma extensa rede de corrupção com atividades ilícitas do que como uma organização de tráfico de drogas no sentido tradicional.
Um impasse geopolítico sem solução à vista
A Venezuela nega veementemente qualquer envolvimento com o narcotráfico e sustenta que o verdadeiro objetivo de Washington é derrubar Maduro para tomar o controle das maiores reservas de petróleo do mundo. A reunião do Conselho de Segurança, conforme era esperado, encerrou-se sem resultados concretos ou uma resolução para a crise no Caribe.
O episódio evidencia mais um capítulo do profundo impasse geopolítico em torno da Venezuela, com Rússia e China firmes no apoio ao governo de Maduro e os Estados Unidos intensificando a pressão máxima. O "comportamento de caubói", como foi rotulado pelos críticos, promete manter a tensão alta na região, sem perspectivas de um acordo diplomático no curto prazo.