As tensões entre China e Japão atingiram um novo patamar neste domingo, 23 de novembro de 2025, quando o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, emitiu um severo alerta a Tóquio sobre suas declarações concerning Taiwan. O diplomata afirmou que o Japão cruzou uma linha vermelha ao sugerir intervenção militar no território que Pequim considera parte integrante de seu país.
Advertência chinesa e posição firme
Em declarações contundentes, Wang Yi deixou claro que a China está preparada para responder resolutamente caso seja necessário, enfatizando que todos os países têm a responsabilidade de impedir o que chamou de ressurgimento do militarismo japonês. As palavras do chanceler chinês foram uma resposta direta às declarações da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, feitas a parlamentares no início do mês.
É chocante que os atuais líderes do Japão tenham enviado publicamente o sinal errado de tentar uma intervenção militar na questão de Taiwan, declarou Wang Yi durante seu pronunciamento. O ministro acrescentou que os japoneses disseram coisas que não deveriam ter dito e cruzaram uma linha vermelha que não deveria ter sido ultrapassada.
Escalada diplomática na ONU
A crise diplomática entre as duas potências asiáticas já havia chegado às Nações Unidas na sexta-feira, 21 de novembro. A China enviou uma carta formal ao secretário-geral da ONU, António Guterres, criticando o que classificou como grave violação do direito internacional por parte da primeira-ministra Takaichi.
No documento, o embaixador chinês nas Nações Unidas, Fu Cong, foi ainda mais enfático: Se o Japão ousar tentar uma intervenção armada na situação do Estreito, será um ato de agressão. A carta também reafirmou que a China exercerá seu direito de autodefesa sob a Carta da ONU e o direito internacional para defender sua soberania e integridade territorial.
Medidas econômicas e consequências
As tensões diplomáticas já começam a mostrar reflexos na esfera econômica. Na semana passada, a China suspendeu as importações de frutos do mar do Japão, medida que afeta significativamente a economia japonesa, uma vez que o mercado chinês - incluindo Hong Kong - representava mais de um quinto das exportações japonesas do setor.
Apesar de Pequim justificar a decisão pela necessidade de monitorar melhor a qualidade da água, analistas internacionais interpretam a medida como uma clara retaliação política no contexto da crise atual.
As tentativas de diálogo até o momento não obtiveram sucesso. Um alto funcionário do governo Takaichi reuniu-se com diplomatas em Pequim na terça-feira, 18 de novembro, buscando amenizar as tensões, mas sem avanços concretos. O Ministério das Relações Exteriores da China exigiu que a primeira-ministra japonesa se retratasse publicamente, demanda que foi imediatamente rejeitada pelo porta-voz do governo japonês, Minoru Kihara.
O clima de tensão já reflete na segurança dos cidadãos. A embaixada do Japão em Pequim emitiu um alerta de segurança orientando seus cidadãos na China a respeitar os costumes locais e tomar cuidado extra em suas interações. A orientação inclui recomendações para que evitem andar sozinhos e redobrem a atenção quando acompanhados de crianças.
Do lado chinês, o governo desaconselhou viagens ao Japão, e mais de 10 companhias aéreas chinesas - incluindo Air China, China Eastern Airlines e China Southern Airlines - ofereceram reembolsos para voos com destino ao Japão até 31 de dezembro. A Sichuan Airlines cancelou completamente os planos para a rota Chengdu-Sapporo até pelo menos março do próximo ano.
A crise entre os dois países asiáticos representa uma das mais sérias escaladas de tensão na região nos últimos anos, com potencial para afetar não apenas as relações bilaterais, mas todo o equilíbrio geopolítico do Leste Asiático.