Operação anticorrupção atinge núcleo do governo ucraniano
Nesta sexta-feira (28), uma operação sem precedentes atingiu o coração do governo da Ucrânia. Unidades anticorrupção realizaram buscas na residência e no escritório de Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente Volodymyr Zelensky e principal negociador nas conversas de paz com a Rússia.
Horas após a operação policial, Zelensky anunciou a renúncia de Yermak do cargo. As buscas ocorreram em um momento crítico para Kiev, que enfrenta pressão intensa dos Estados Unidos para assinar um acordo de paz com Moscou.
Detalhes da operação e cooperação de Yermak
Yermak confirmou através do Telegram que seu apartamento dentro do complexo presidencial no centro de Kiev foi revistado. O acesso à área foi restringido por postos de controle durante a operação.
"Os investigadores não estão enfrentando obstáculos", escreveu Yermak no aplicativo de mensagens. Ele acrescentou que estava cooperando plenamente com as autoridades e que seus advogados estavam presentes durante as buscas.
Não ficou claro onde estavam Zelensky ou Yermak no momento da operação, realizada durante a manhã. O Gabinete Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU) e a Procuradoria Especializada Anticorrupção são os órgãos responsáveis pela investigação.
Escândalo no setor energético e renúncias no governo
As agências anticorrupção conduzem atualmente uma grande investigação sobre um escândalo de corrupção no setor de energia, envolvendo US$ 100 milhões e altos funcionários ucranianos. O caso dominou os noticiários nacionais nas últimas semanas, embora não haja confirmação oficial se as buscas em Yermak estão relacionadas a este caso específico.
Investigadores suspeitam que Tymur Mindich, ex-sócio de Zelensky, foi o mentor do esquema. Mindich fugiu do país, e qualquer processo criminal contra ele provavelmente será conduzido à revelia.
O escândalo já provocou a renúncia de dois ministros importantes do governo ucraniano. Dois ex-vice-presidentes de Yermak - Oleh Tatarov e Rostyslav Shurma - deixaram o governo em 2024 após serem investigados por irregularidades financeiras.
Um terceiro vice-presidente, Andriy Smyrnov, foi investigado por suborno e outras irregularidades, mas continua trabalhando para Yermak.
Crise política e pressão internacional
O escândalo agravou significativamente os problemas de Zelensky, que busca apoio contínuo dos países ocranianos para o esforço de guerra da Ucrânia e tenta garantir a continuidade do financiamento estrangeiro.
A União Europeia, à qual a Ucrânia deseja aderir, disse claramente a Zelensky que ele precisa reprimir a corrupção no país. No início deste mês, o presidente enfrentou uma rebelião sem precedentes de seus próprios parlamentares após investigadores divulgarem detalhes da investigação sobre o setor energético.
Embora Yermak não tenha sido acusado formalmente de qualquer irregularidade, vários parlamentares veteranos do partido de Zelensky afirmaram que ele deveria assumir a responsabilidade pelo fiasco para restaurar a confiança pública. Alguns chegaram a alertar que, se Zelensky não demitisse Yermak, o partido poderia se dividir, ameaçando a maioria parlamentar do presidente.
Zelensky, no entanto, ignorou essas pressões internas e pediu aos ucranianos que se unissem e "parassem com os jogos políticos", em vista da pressão dos EUA para que se chegasse a um acordo com a Rússia.
Relação próxima entre Zelensky e Yermak
Yermak conheceu Zelensky há mais de 15 anos, quando era um advogado que se aventurava no ramo da produção televisiva e Zelensky era um famoso comediante e ator ucraniano. Ele supervisionou as relações exteriores como parte da primeira equipe presidencial de Zelensky e foi promovido a chefe de gabinete em fevereiro de 2020.
Desde a invasão russa em fevereiro de 2022, Yermak acompanhou Zelensky em todas as viagens ao exterior. A confiança que o presidente deposita nele fez com que o poder de Yermak parecesse quase intocável até esta sexta-feira.
No âmbito interno, autoridades descrevem Yermak como o guardião de Zelensky, e acredita-se amplamente que ele tenha escolhido todos os principais nomeados do governo, incluindo primeiros-ministros e ministros.