Em um movimento que intensifica as tensões diplomáticas, os Estados Unidos incluíram oficialmente o Cartel de los Soles em sua lista de organizações terroristas. A decisão histórica foi anunciada no dia 24 de novembro de 2025, mesmo dia em que soube-se que o presidente Donald Trump quer estabelecer comunicação direta com o líder venezuelano Nicolás Maduro.
Diálogo sob tensão militar
Segundo informações do site Axios, especializado em política norte-americana, Trump expressou a aliados próximos seu interesse em conversar por telefone com Maduro. A iniciativa surge em meio a uma significativa escalada militar na região do Caribe.
A Marinha dos EUA reforçou sua frota na área com oito navios de guerra, caças F-35 e o porta-aviões Gerald Ford, o maior do mundo, que chegou às águas caribenhas na semana passada. Desde setembro, as forças americanas realizaram pelo menos 21 ataques contra embarcações suspeitas de narcotráfico, resultando em 83 mortes.
Uma autoridade não identificada afirmou ao Axios que "ninguém está planejando entrar lá e atirar nele ou sequestrá-lo — neste momento", mas deixou claro que todas as opções permanecem em consideração.
Classificação que muda o jogo
A inclusão do Cartel de los Soles na lista de organizações terroristas representa uma mudança significativa na postura norte-americana. Segundo analistas, essa classificação daria aos EUA bases legais para atacar alvos vinculados a Maduro em território venezuelano.
O governo Trump acusa a organização de trabalhar com a gangue Tren de Aragua, também designada como organização terrorista, no envio de drogas aos Estados Unidos. Washington afirma que Maduro chefia pessoalmente o cartel, alegação que o presidente venezuelano nega veementemente.
Em resposta à classificação, Maduro a chamou de "ridícula" e acusou Washington de tentar forçar uma mudança de regime na Venezuela.
A controvérsia sobre a existência do cartel
Especialistas em tráfico internacional de drogas contestam a visão simplificada apresentada pelo governo americano. Jeremy McDermott, cofundador do InSight Crime, explica que o Cartel de los Soles não é uma organização hierárquica tradicional, mas sim uma "rede de redes" que facilita o tráfico de drogas.
Segundo McDermott, que viveu e trabalhou 25 anos em Medellín analisando cartéis, Maduro não seria o líder direto, mas sim um dos principais beneficiários de um sistema de "governança criminal híbrida" que ajudou a instalar no país.
O nome "Cartel de los Soles" foi cunhado pela mídia em 1993 para descrever elementos corruptos da Guarda Nacional Venezuelana envolvidos no tráfico de drogas. O termo refere-se às insígnias militares usadas pelos generais venezuelanos e foi posteriormente adotado pelo Departamento de Justiça dos EUA em acusações contra Maduro.
As origens do fenômeno antecedem a ascensão de Hugo Chávez ao poder em 1999, indicando que o problema é mais profundo e complexo do que as acusações recentes sugerem.