Governo alemão se recusa a pedir desculpas por declarações de Merz sobre Belém
Alemanha se recusa a pedir desculpas por fala de Merz

Governo alemão se defende após polêmica com declarações sobre Belém

O governo alemão se recusou formalmente a pedir desculpas pelas declarações do primeiro-ministro Friedrich Merz sobre Belém, que causaram mal-estar nas relações entre Alemanha e Brasil. Stefan Kornelius, porta-voz e secretário de Comunicação do governo Merz, afirmou nesta quarta-feira que não há qualquer intenção de se desculpar pelas falas que viralizaram nas redes sociais.

Durante entrevista coletiva em Berlim, Kornelius buscou minimizar a controvérsia que persegue o líder alemão desde segunda-feira (18). "Gostaria de esclarecer mais uma vez o contexto, pois percebo uma certa agitação em torno deste tema que pouco tem a ver com os fatos", declarou o secretário quando questionado sobre um possível pedido de desculpas.

As declarações que causaram polêmica

A crise começou quando Merz, em discurso no Congresso Alemão do Comércio na semana passada, usou o Brasil como referência negativa para enaltecer a Alemanha. O primeiro-ministro afirmou que vivem em "um dos países mais bonitos do mundo" e questionou jornalistas que o acompanharam na viagem: "Perguntei a alguns jornalistas que estiveram comigo no Brasil na semana passada: 'Quem de vocês gostaria de ficar aqui?' Ninguém levantou a mão."

O vídeo com esse trecho do discurso se espalhou rapidamente pelas redes sociais, provocando críticas imediatas de autoridades brasileiras e de ambientalistas alemães que participam da COP30 em Belém.

A defesa do governo alemão

Kornelius apresentou uma versão dos fatos diferente da que circulava na mídia. Segundo ele, a observação de Merz referia-se essencialmente ao cansaço da delegação após um voo noturno exaustivo e um longo dia em Belém durante a Cúpula dos Líderes da COP30, no último dia 7.

"Quando o primeiro-ministro diz 'vivemos em um dos países mais bonitos do mundo', isso não significa que outros países não sejam também muito bonitos", argumentou o porta-voz, acrescentando que considerava "muito apropriado o primeiro-ministro descrever a Alemanha como um dos países mais bonitos do mundo."

O secretário também destacou que Merz lamentou não ter tido tempo para conhecer melhor a "beleza natural" de Belém e da Amazônia durante sua curta estadia na capital paraense.

Repercussão política e popularidade em queda

A oposição alemã não poupou críticas a Merz. Katharina Dröge, co-líder dos Verdes no Parlamento alemão, declarou à agência DPA: "Aos poucos começamos a nos perguntar se o primeiro-ministro ainda pode aparecer em algum lugar sem colocar a Alemanha em uma situação difícil."

A parlamentar acrescentou: "A imagem que o primeiro-ministro transmitiu durante sua viagem ao Brasil foi desastrosa: falta de tato na política externa, falta de ambição na política climática e simplesmente desrespeito ao Brasil."

A crise ocorre em um momento delicado para o governo Merz. Segundo pesquisa RTL/ntv, a proporção de eleitores insatisfeitos com o premiê alcançou 73% nesta semana, um novo pico para um governo que está há apenas seis meses no poder.

Enquanto isso, Kornelius reafirmou o compromisso da Alemanha em fortalecer as relações com o Brasil, incluindo economia e comércio, e mencionou a Feira de Hannover, que o presidente Lula prometeu visitar no próximo ano, como uma oportunidade para aprofundar essa parceria estratégica entre os dois países.