
Eis que o presidente Lula solta o verbo — e como sempre, sem meias palavras. Numa fala que mistura indignação com ironia fina, ele rebateu as declarações do ex-presidente americano Donald Trump sobre possíveis taxações comerciais contra o Brasil. "Chantagem pura", definiu, com aquele jeito mineiro de quem não leva desaforo pra casa.
Mas não foi só. Num giro inesperado, Lula mirou também nos "políticos que vendem o país por um prato de lentilhas" — ou melhor, por interesses que, segundo ele, ferem a soberania nacional. A metáfora bíblica não foi por acaso: o tom era de sermão contra o que chamou de "traidores da pátria".
O xadrez internacional (e as peças que não se movem como deveriam)
Trump, como sempre, não poupou dramaticidade. Suas ameaças de taxar produtos brasileiros — "para proteger os EUA", claro — ecoaram como um ultimato dos tempos da política do big stick. Só que Lula, ao contrário do que muitos esperavam, não ficou no campo da diplomacia protocolar.
"Inaceitável", disparou, com aquela cara de poucos amigos que conhecemos bem. "Não vamos negociar sob pressão, muito menos aceitar condições que nos enfraquecem." E aqui, uma pausa estratégica antes de soltar: "Alguns aqui dentro parecem ter saudade do colonialismo." Ops.
Os "aliados" que mais atrapalham que ajudam
E foi aí que o discurso pegou fogo. Sem citar nomes — mas deixando as pistas mais óbvias que um caminhão de laranjas na BR-116 —, Lula criticou "aqueles que abrem as pernas para interesses estrangeiros". A expressão, digamos, pouco ortodoxa para um chefe de Estado, mostrava a raiva contida.
- "Temos congressistas que trabalham mais para Washington que para Brasília"
- "Alguns juízes parecem ter jurado bandeira alheia"
- "A soberania não se negocia — e quem pensa o contrário deveria rever seu lugar na história"
Numa tacada só, misturava crítica à bancada ruralista, ao judiciário "alinhado demais" com o exterior, e aos economistas que defendem abertura sem contrapartidas. Arriscado? Sem dúvida. Mas Lula nunca foi de jogar seguro quando se trata de puxar briga.
E agora, José?
O que fica claro é que o presidente está disposto a transformar o discurso em linha divisória. De um lado, os "nacionalistas de verdade"; do outro, os "entreguistas" — categoria que, pela fala, inclui desde liberais até aliados inesperados.
Será que a estratégia vai colar? Difícil dizer. Mas uma coisa é certa: depois dessa, ninguém pode acusar o velho lobo da política brasileira de não saber marcar território. E com estilo, diga-se de passagem.