
Não é todo dia que um representante dos Estados Unidos aparece no corredor do poder em Brasília. Mas na tarde desta quarta, o clima político esquentou — e não foi só por causa do calor de 32°C na capital federal.
Fontes próximas ao Planalto confirmam que um enviado especial do governo Biden procurou o líder do governo Lula no Congresso, o deputado José Guimarães (PT-CE). O assunto? Aquela velha discussão que nunca acaba: as tarifas comerciais que estão deixando os exportadores brasileiros de cabelo em pé.
O que está em jogo?
Parece que os ianques estão com a faca e o queijo na mão. De um lado, o Brasil reclama das barreiras à entrada de aço e alumínio no mercado norte-americano. Do outro, os EUA — sempre eles — ameaçam aumentar as taxas para produtos agrícolas brasileiros. E olha que não é pouca coisa: só no ano passado, o agronegócio mandou para lá US$ 12 bilhões em mercadorias.
O encontro, que durou quase duas horas (um tempão para padrões diplomáticos), aconteceu no gabinete do deputado. Segundo um assessor que pediu para não ser identificado — "porque ninguém quer virar alvo" —, o tom foi "firme, mas educado".
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Curiosamente, o Itamaraty não emitiu nenhum comunicado oficial sobre o assunto. Será que estão tentando abafar o caso? Ou será estratégia para não queimar as pontes antes da hora?
Por que isso importa?
Se tem uma coisa que todo mundo sabe — do peão no interior de Goiás ao executivo em São Paulo — é que briga comercial nunca termina bem. Em 2019, quando Trump aumentou as tarifas, o Brasil perdeu cerca de R$ 3 bilhões em exportações. Dessa vez, com eleições nos dois países, o jogo político fica ainda mais complexo.
"O Biden precisa mostrar força para a base dele, mas também não pode alienar um parceiro importante como o Brasil", analisa um professor de relações internacionais que preferiu não se identificar. "Já o Lula... bem, ele sempre gostou de um bom teatro político."
Enquanto isso, nos bastidores, os ruralistas estão em pé de guerra. Afinal, quem paga o pato são sempre eles. "Se aumentar mais as taxas, a gente vai ter que repensar toda a cadeia produtiva", reclama um produtor de soja do Mato Grosso que já perdeu três contratos este ano.