O ex-primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, de 72 anos, recebeu uma nova e pesada condenação nesta sexta-feira, 26 de dezembro de 2025. O político foi sentenciado a 15 anos de prisão por crimes de abuso de poder e lavagem de dinheiro, em mais um capítulo do monumental escândalo de corrupção envolvendo o fundo soberano 1Malaysia Development Berhad (1MDB).
Detalhes da sentença e valores desviados
O veredicto, proferido em Putrajaya, capital administrativa do país, é resultado de um processo judicial que se arrastou por sete anos e ouviu o depoimento de 76 testemunhas. O juiz considerou Najib Razak culpado por quatro acusações de abuso de poder e outras 21 de lavagem de dinheiro.
As condenações estão relacionadas ao desvio de aproximadamente 2,3 bilhões de ringgits (cerca de 570 milhões de dólares) do fundo estatal para contas pessoais do ex-líder. Pela legislação local, as penas – quatro sentenças de 15 anos por abuso de poder e de cinco anos por cada crime de lavagem – serão cumpridas de forma simultânea.
Contexto penal e apelo rejeitado
Najib Razak já está preso desde 2022, cumprindo uma pena de seis anos de prisão por um caso separado de peculato, também ligado ao escândalo do 1MDB. A defesa do ex-premiê sofreu mais um revés no início desta semana, quando a Justiça rejeitou um pedido para que ele cumprisse o restante da pena em regime de prisão domiciliar.
Apesar das condenações, Najib mantém uma base de apoiadores fiéis. Um grupo deles se reuniu em frente ao tribunal em Putrajaya para protestar, classificando o processo como uma perseguição política.
O escândalo bilionário e suas ramificações
O caso do 1MDB, que veio à tona há cerca de uma década, chocou o mundo pela magnitude e pelas figuras de alto escalão envolvidas. Investigadores estimam que cerca de 4,5 bilhões de dólares tenham sido desviados do fundo soberano para contas privadas, incluindo as do próprio ex-primeiro-ministro.
O escândalo ganhou repercussão internacional ao envolver grandes instituições financeiras, como o banco Goldman Sachs, e personalidades do entretenimento em Hollywood. A defesa de Najib sempre sustentou que ele foi enganado por assessores, especialmente pelo financista Jho Low, apontado como peça-chave do esquema e que segue foragido. No entanto, essa argumentação foi rejeitada repetidamente pelos tribunais.
Esta não é a primeira grande condenação de Najib. Em 2020, ele já havia sido considerado culpado por abuso de poder, lavagem de dinheiro e quebra de confiança em outro processo envolvendo recursos da SRC International, antiga subsidiária do 1MDB – pena que foi reduzida pela metade no ano passado.
O caso mais recente, porém, envolve valores ainda maiores e transferências diretas para a conta pessoal do ex-líder em 2013. Najib alegou que o dinheiro era uma doação do então rei da Arábia Saudita, Abdullah, versão que foi totalmente descartada pela Justiça malaia.
Impacto político e mensagem à elite
O escândalo do 1MDB teve consequências políticas profundas. Em 2018, ele foi um fator crucial para a derrota histórica da coalizão Barisan Nasional, liderada por Najib, que governava a Malásia ininterruptamente desde a independência do país, em 1957.
As recentes condenações expõem novas fissuras na coalizão governista atual, que inclui o partido de Najib, a Organização Nacional dos Malaios Unidos (UMNO). O atual primeiro-ministro, Anwar Ibrahim, afirmou que as decisões judiciais devem ser respeitadas.
Para críticos e observadores, o caso envia um recado contundente. "A mensagem é que mesmo o líder máximo do país pode ser responsabilizado por corrupção", afirmou o ex-parlamentar Tony Pua. Por outro lado, ativistas anticorrupção alertam que, apesar do simbolismo das condenações, a Malásia ainda precisa fortalecer suas instituições para prevenir novos escândalos de grande escala no futuro.