
Ah, o velho clichê: "ler é viajar sem sair do lugar". Mas e quando a viagem parece mais um passeio chuvoso de domingo? Pois é, meu caro — a verdade é que muitos brasileiros ainda torcem o nariz para autores nacionais, e não é por falta de qualidade.
No Dia Nacional da Leitura, resolvi cutucar a ferida com uma luva de pelica. Afinal, quem nunca ouviu aquele amigo que jura de pé junto que "livro brasileiro é maçante"? Balela! O problema, muitas vezes, é simplesmente não ter encontrado a porta de entrada certa.
Quando a Literatura Pula da Página e te Abraça
Selecionei três obras que são praticamente um abraço literário — daqueles que a gente sente falta depois que acaba. São livros que conversam com a gente, que entendem nossas manias, nossos sotaques, nossa alma tão peculiarmente brasileira.
1. "O Avesso da Pele" - Jeferson Tenório
Caramba, que livro! Tenório tece uma narrativa sobre racismo estrutural que dói — mas dói daquela dor necessária, sabe? A história acompanha Pedro, um homem negro que perde o pai em uma abordagem policial violenta. O que poderia ser apenas mais um caso nas estatísticas ganha camadas profundas de humanidade.
O autor constrói cada frase com uma delicadeza que contrasta brutalmente com a violência do tema. É daqueles livros que a gente termina e fica uns bons minutos só olhando para a parede, processando. Uma experiência literária que marca — e como marca!
2. "Torto Arado" - Itamar Vieira Junior
Olha, confesso: quando peguei esse pela primeira vez, pensei "mais um romance sobre o Nordeste". Que engano colossal! A história das irmãs Bibiana e Belonísia é simplesmente arrebatadora.
O livro mergulha na vida de comunidades rurais com uma sensibilidade que chega a ser física — você quase sente o cheiro da terra, o calor do sol, a textura das coisas. E aquele acidente com o facão no começo? Meu Deus, que cena! Fica gravada na memória como poucas na literatura recente.
Vieira Junior não apenas conta uma história — ele costura a narrativa com os fios da tradição, da luta pela terra, dos saberes populares. Uma verdadeira aula de como escrever sobre Brasil sem clichês fáceis.
3. "A Visita Cruel do Tempo" - Jennifer Nascimento
Esse aqui é para quem gosta de se perder em labirintos temporais — mas labirintos com coração brasileiro. A autora brasileira, ainda pouco conhecida do grande público, faz uma jogada ousada: misturar ficção científica com as complexidades das relações familiares no Recife.
A protagonista, Sofia, descobre que pode voltar no tempo — mas apenas para revisitar seus próprios traumas. Parece receita para confusão? E é! Mas que confusão deliciosa.
O que mais me pegou foi como Nascimento usa a fantasia para falar de coisas tão reais: arrependimentos, escolhas, aqueles "e se..." que nos assombram nas madrugadas. Uma grata surpresa da nossa literatura contemporânea.
Por Que Dar Essa Chance?
Parece bobagem, mas tem algo de mágico em ler histórias que acontecem em cenários que a gente reconhece, com personagens que falam como a gente. É como encontrar um velho amigo num lugar inesperado.
Esses três livros — cada um à sua maneira — mostram a incrível variedade da nossa produção literária. Do sóbrio ao fantástico, do urbano ao rural, temos autores criando obras que não devem nada à literatura internacional. Aliás, muitas vezes superam.
Então, que tal fazer desse Dia Nacional da Leitura um ponto de virada? Pega um desses, arruma um cantinho confortável e se permita. Quem sabe você não descobre que o problema nunca foi gostar de ler — era só não ter encontrado o livro certo ainda.
Ah, e me conta depois o que achou — adoro uma boa conversa sobre livros!