Vinte e dois anos após o discurso de posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou o legado de um Brasil sem crescimento e com laços sociais deteriorados, o país se aproxima de 2026 com um retrato desbotado de sua modernidade. A análise, publicada originalmente em dezembro de 2025, traça um panorama de um nação que construiu infraestrutura de ponta, mas segue aprisionada na baixa renda, incapaz de distribuir os frutos do progresso tecnológico para a maioria de sua população.
O Crescimento Econômico e o Ciclo Político
No verão de 2003, Lula assumiu a presidência e apontou a ineficácia das políticas econômicas de seus antecessores – José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Desde então, em metade desses 22 anos, foi o próprio Lula quem gerenciou a economia, com uma média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,5% ao ano.
Esse patamar, no entanto, é improvável de ser superado no restante de seu mandato e se situa em um nível intermediário na comparação histórica. A expansão média foi inferior aos governos Sarney (4,5%) e Itamar (5%), mas superou a de Fernando Henrique Cardoso (2,4%), Dilma Rousseff (1,2%), Michel Temer (0,06%) e Jair Bolsonaro (1,4%).
O Partido dos Trabalhadores (PT) se consolidou como a força política mais longeva no poder neste início de século, vencendo cinco das seis eleições presidenciais do período. A tática de veneração à personalidade do líder, somada a uma eficiente máquina eleitoral, sustenta essa trajetória. Agora, o partido se mobiliza para o que seria a última batalha eleitoral de Lula, que, se eleito em outubro de 2026, governaria até os 85 anos.
Seu principal adversário recente, Jair Bolsonaro, está inelegível até completar 105 anos. Juntos, eles simbolizam o fim de um ciclo de políticos nascidos após a Segunda Guerra Mundial que, na diversidade ideológica, escreveram a história da redemocratização brasileira a partir dos anos 1980.
A Modernidade Inacessível: O Caso do 5G
O Brasil que chega a 2026 é a síntese de uma contradição profunda: é moderno com um retrato desbotado. Um caso exemplar é o da telefonia 5G. O governo e empresas privadas investiram pesado para montar essa rede de conexão rápida e estável em dois terços do território nacional. A modernidade, porém, esbarra na realidade econômica da população.
Cerca de 75% dos consumidores brasileiros não têm renda suficiente para adquirir telefones celulares compatíveis com a nova tecnologia. O país pagou caro por uma base tecnológica fundamental, mas não pode usá-la plenamente devido à insuficiência de renda de sua população. A ironia é que a transição para a economia digital, em tese, poderia ajudar a reduzir o custo do Estado, hoje financiado por uma das maiores cargas tributárias do mundo (entre 34% e 38% do PIB).
O mosaico de desafios se completa com uma economia fechada, em contínuo processo de desindustrialização, cada vez mais dependente das exportações de produtos primários e com uma oferta crescente de empregos pouco qualificados. O Brasil permanece sem relevância no mapa global de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica.
As Expectativas para a Campanha de 2026
Esse cenário de fiascos políticos e econômicos deve balizar a campanha eleitoral de 2026, conforme indicam pesquisas de institutos como Quaest, Datafolha e AtlasIntel/Bloomberg. As expectativas dos eleitores, proporcionais à frustração coletiva, podem ser resumidas em dois pontos principais:
- Compromissos com a segurança pública: Há esperança por políticas que resultem em queda real nos índices de criminalidade e efeitos perceptíveis na redução da violência urbana.
- Aumento real da renda familiar: Mantém-se a crença na possibilidade de melhorar a situação das famílias altamente endividadas, desde que o crescimento econômico seja alavancado por inflação e juros menores, mitigando problemas sociais visíveis.
A disputa de 2026 se apresenta mais difícil porque o efeito eleitoral dos programas sociais, como o Bolsa Família, já não seria suficiente para decidir uma eleição como antes. Esses programas continuam relevantes, mas são agora vistos como um direito adquirido e uma obrigação de qualquer governo.
Além disso, partidos e candidatos parecem acomodados. A dez meses da eleição, não há projetos concretos do governo ou da oposição para enfrentar a insegurança pública, principal preocupação do eleitorado. Também não existe um esboço consistente para resgatar o país do ciclo de estagnação, que completa quatro décadas.
Falta ainda um debate nacional sobre o que o Brasil quer e pode ousar ser no novo mundo, especialmente estando no centro da disputa por influência entre Estados Unidos e China na América Latina. O país do futuro, portanto, chega a mais uma encruzilhada eleitoral com seu retrato de modernidade ainda desbotado pela baixa renda e pela falta de um projeto claro para os desafios do século XXI.