
Imagine um lugar onde as paredes respiram história carcerária e os jacarés rondam os arredores. Não, não é um roteiro de filme B — é o apelido que ganhou o Turner Guilford Knight Correctional Center, em Miami. A antiga prisão, que hoje abriga imigrantes em processo de deportação, virou o centro de um furacão político.
Detalhe que faz a cabeça girar: 35% dos detidos ali não têm ficha criminal. Nem roubo de chiclete, nem multa por estacionar em local proibido. Nada. "É como prender alguém por esquecer o guarda-chuva", comenta um advogado local, que pediu para não ser identificado.
Por trás das grades
O lugar — que os agentes insistem em chamar de "centro de processamento" — funciona assim:
- Chegada em algemas, mesmo para quem nunca levantou a voz contra um policial
- Celas divididas com criminosos de verdade
- Banho frio garantido antes das 6h
Não à toa, as ONGs de direitos humanos estão com os cabelos em pé. "Isso aqui tá mais para castigo do que para processo legal", dispara Maria González, da Coalizão pelos Imigrantes.
Os números que não fecham
O governo federal jura de pés juntos que o centro é "necessário". Mas os dados contam outra história:
- Média de permanência: 72 dias (quando a lei prevê no máximo 21)
- Custo diário por detido: US$ 158 — quase um salário mínimo brasileiro
- 35% sem qualquer passagem pela polícia
Pior? Alguns estão lá só porque o sistema perdeu seus documentos. Sim, aquela velha história da papelada que some no limbo burocrático.
Enquanto isso, do lado de fora, os jacarés — os de verdade — parecem rir da situação. Ironia da natureza ou metáfora pronta? Você decide.