A convocatória de boicote feita por políticos de direita contra a marca Havaianas não encontrou eco nas lojas da capital paulista nesta reta final do Natal. A reportagem da Folha de S.Paulo visitou cinco estabelecimentos da marca em São Paulo e constatou que o movimento de clientes permaneceu inalterado, com filas que, em alguns casos, ultrapassavam a porta das lojas.
Movimento nas lojas segue normal, apesar da polêmica
Gerentes dos pontos de venda relataram à reportagem que não houve qualquer mudança perceptível no fluxo de consumidores. Os estabelecimentos estavam cheios devido às compras de fim de ano, e o atendimento ocorria normalmente, sem registros de manifestações ou protestos. A empresa não emitiu nenhuma orientação específica sobre o assunto aos seus funcionários, segundo os relatos colhidos.
O cenário de movimento intenso não se limitou a São Paulo. Imagens da Agência France-Presse também mostraram filas em lojas da Havaianas na cidade do Rio de Janeiro, indicando que a rejeição propagada nas redes sociais não se materializou no comércio físico.
Reação dos clientes: da indiferença à crítica
A reportagem ouviu dez clientes. Metade deles afirmou nem ter visto o comercial que gerou a polêmica. Entre os que assistiram, três disseram não se importar com o conteúdo. Dois criticaram a peça publicitária, mas um deles, mesmo assim, realizou uma compra.
O aposentado Giácomo Bianchini, de 72 anos, que se declara bolsonarista, foi um dos que reprovaram a campanha. "Comprei o chinelo por pressão da minha esposa", revelou, explicando que o produto era um presente para o filho do casal. Ele tentou encontrar sandálias de outra marca, a Ipanema, mas não teve sucesso.
Na outra ponta, a aposentada Zuleica Maranhão, de 69 anos, considerou a discussão uma "bobagem". "Todo mundo fala entrar com o pé direito ou entrar com os dois pés. É algo natural. Isso acontece por causa da polarização que estamos vivendo", analisou, defendendo a separação entre produto e política.
Repercussão financeira e casos isolados de apoio ao boicote
Apesar da normalidade nas lojas, a polêmica atingiu o mercado financeiro. A Alpargatas, controladora da Havaianas, registrou uma forte queda em suas ações na B3 nesta segunda-feira (22), em meio ao burburinho em torno da campanha.
Politicos como o ex-deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) associaram o conteúdo do comercial a uma suposta posição ideológica da marca, inflamando o debate nas redes.
Um caso isolado de adesão ao boicote foi registrado em Brusque, Santa Catarina. A loja Calçados Guarani esgotou em menos de meia hora seu estoque de Havaianas após colocar os pares à venda por apenas R$ 1, em um movimento claramente alinhado aos apoiadores da direita que pregavam o boicote.
O empresário João Soares, 64, é um dos que apoiam o protesto. "Não vou comprar essa marca e vou deixar de usar o que tenho em casa. Acho que foi um comercial desnecessário", afirmou.
Para a maioria dos consumidores entrevistados, no entanto, a qualidade do produto se sobrepõe à repercussão da propaganda. "Vim aqui comprar um chinelinho para meu filho de um ano e meio, e isso é o mais importante para mim", resumiu o bancário Diego Silva, 36.