Acordo Mercosul-UE: Lula cede mais e cláusula de salvaguarda piora negociação
Acordo Mercosul-UE piora com novas exigências europeias

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma declaração reveladora sobre as negociações do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Em dezembro de 2025, Lula afirmou que o Brasil "está cedendo mais do que os europeus" para tentar fechar o tratado ainda no mesmo ano. O presidente ainda fez um apelo direto aos líderes da França e da Itália, Emmanuel Macron e Giorgia Meloni, para que retirem suas objeções ao pacto.

Um acordo que retrocede em um mundo em transformação

Analistas internacionais apontam que vivemos uma época de transição global, marcada por incertezas e instabilidade. Enquanto nações centrais e emergentes relevantes adotam medidas para proteger suas economias e aumentar a autonomia produtiva, o governo brasileiro segue na direção oposta. A estratégia de dobrar a aposta no livre comércio como caminho para o desenvolvimento surpreende, pois representa uma continuidade em relação às políticas dos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Para especialistas, essa postura é especialmente preocupante para um país que enfrenta um processo severo de desindustrialização e regride à condição de exportador de produtos primários. O acordo com a União Europeia simboliza essa escolha de inserção comercial, considerada anacrônica e desvantajosa.

As regras que pioraram: de "carros por vacas" a salvaguardas rígidas

O tratado, ironicamente chamado de "carros por vacas", mantém as condições de acesso para produtos agropecuários negociadas originalmente na gestão do ex-ministro Paulo Guedes. Essas regras alteram muito pouco a participação brasileira no mercado europeu. Itens cruciais para o agronegócio nacional, como carne bovina, frango e etanol, permanecerão limitados por cotas rigorosas, que representam cerca de apenas 1% do consumo total da UE.

Produtos básicos como soja, café verde e minério de ferro já entravam com tarifa zero antes mesmo do acordo. A novidade negativa veio com uma exigência adicional do Parlamento Europeu. Aprovou-se uma cláusula de salvaguarda que permite à União Europeia iniciar uma investigação expedita, com duração de apenas três meses, caso as importações do Mercosul aumentem em um percentual mínimo de 5%. Se acionada, a UE pode suspender o acesso preferencial ou forçar os países do bloco sul-americano a adotarem padrões europeus de produção.

Postura brasileira gera perplexidade e risco de "neocolonização"

Diante dessas condições consideradas desfavoráveis, a postura do governo brasileiro tem sido de aceitação. O ministro da Agricultura chegou a declarar que era preciso aceitar as condições, pois "não adianta a gente ficar procurando o acordo perfeito". Para economistas, a submissão do lado perdedor era esperada, mas a insistência do lado vencedor em tornar o acordo ainda mais assimétrico é surpreendente.

O risco, segundo os analistas, é que este acordo faça parte de uma série de tratados semelhantes – como os negociados com Canadá, Coreia do Sul, Singapura e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) – que, juntos, podem levar o Brasil a um cenário de neocolonização, e não de neoindustrialização. Enquanto os Estados Unidos anunciam uma estratégia de reindustrialização baseada em autonomia produtiva, o Brasil parece seguir um caminho considerado ultrapassado.

A pergunta que fica é se o presidente Lula, diante de fatos globais que mudaram profundamente, reconsiderará sua estratégia comercial ou permanecerá apegado a políticas que muitos consideram inadequadas e insustentáveis para o momento atual.