Tarifa dos EUA trava exportação de móveis da Serra Gaúcha: impacto bilionário em jogo
Tarifa dos EUA paralisa exportação de móveis da Serra Gaúcha

Era para ser mais um dia normal nas fábricas da Serra Gaúcha, onde o cheiro de pinheiro e o barulho das serras elétricas ditam o ritmo há décadas. Mas a notícia que chegou na tarde de terça-feira deixou até os mais experientes de cabelo em pé: os Estados Unidos bateram o martelo e impuseram uma tarifa de 30% sobre móveis brasileiros — e o impacto já é sentido no chão de fábrica.

"A gente sabia que podia rolar, mas ninguém esperava uma facada dessas", desabafa o empresário Carlos Mendes, dono de uma marcenaria em Bento Gonçalves que exporta 80% da produção. "Tem container nosso parado no porto de Houston desde ontem. E agora?"

O preço do protecionismo

O anúncio feito pelo Departamento de Comércio americano não veio sozinho:

  • Sobretaxa entra em vigor imediatamente para "proteger a indústria local"
  • Setor moveleiro do RS exportou US$ 287 milhões só em 2024
  • 12 mil empregos diretos na região estão sob risco

E o pior? Ninguém no meio empresarial acredita que isso seja "só uma medida técnica". "Tem cheiro de retaliação política", murmura uma fonte do Sindmóveis que pediu para não ser identificada. "O Brasil vinha ganhando mercado com móveis de qualidade superior aos chineses, e isso incomodou."

Efeito dominó

Enquanto os grandes grupos correm para renegociar contratos, os pequenos artesãos — aqueles que fazem peças únicas com madeira de reflorestamento — já sentem o baque. Dona Marli, de 62 anos, trabalha com entalhes desde os 14: "Minhas mesas rústicas iam para lojas de decoração em Miami. Agora vou ter que vender na feira?".

O governo do estado promete "medidas emergenciais", mas especialistas são céticos: "Quando você perde um cliente americano, dificilmente reconquista", alerta a economista Fernanda Costa. "Eles simplesmente migram para fornecedores vietnamitas ou mexicanos."

Enquanto isso, nas estradas da Serra, os caminhões que costumavam levar móveis para o porto de Rio Grande seguem vazios. E o silêncio nas oficinas — que antes ecoavam com o som dos martelos — diz mais que qualquer relatório econômico.