
O que era para ser comemoração virou preocupação. Depois de bater recordes nas exportações — aquela sensação de dever cumprido —, produtores rurais e empresários do interior de São Paulo agora mordem as unhas. O motivo? As temidas tarifas impostas pelos Estados Unidos, que podem virar um balde de água fria nos lucros.
"A gente tira leite de pedra pra produzir, aí vem um negócio desses", desabafa um produtor de laranja de Itapetininga, que prefere não se identificar. Ele não está sozinho. O clima nas rodas de conversa nas cooperativas da região oscila entre frustração e cautela.
Números que enganam
Parece contraditório: enquanto os dados oficiais mostram um primeiro semestre espetacular para o agronegócio paulista (algo como 23% de crescimento nas vendas externas), os armazéns estão cheios de incerteza. "Exportamos mais, mas o câmbio e agora essas tarifas comem nossa margem toda", explica o gerente de uma trading de café em Sorocaba, enquanto ajusta os óculos com ar de quem já fez as contas no papel de pão.
- Soja: Quase 40% da produção regional voltada para exportação
- Suco de laranja: Maior produtor mundial, com 80% destinado ao exterior
- Açúcar: Queda de 15% nos preços desde o anúncio das tarifas
Não é exagero dizer que o campo paulista vive um daqueles momentos "entre a cruz e a espada". De um lado, a demanda global por alimentos nunca esteve tão alta. Do outro, os custos de produção disparam feito foguete de São João — diesel, fertilizantes, e agora esse novo obstáculo comercial.
O jogo político por trás dos números
Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que a medida americana tem mais a ver com eleições internas nos EUA do que com nossa produção. "É protecionismo puro, disfarçado de preocupação ambiental", dispara um analista de comércio exterior, enquanto toma seu café amargo — ironicamente, produto que pode ser um dos mais afetados.
Enquanto isso, nos gabinetes de Brasília, o clima é de mobilização. O Ministério da Agricultura promete "não medir esforços" para reverter a situação, mas os produtores — esses sim, acostumados a lidar com as intempéries do mercado — já começam a se mexer:
- Diversificação de mercados (Ásia e Oriente Médio na mira)
- Busca por acordos bilaterais com outros países
- Investimento em certificações para agregar valor
O fato é que o interior paulista, aquele mesmo que movimenta caminhões de grãos dia e noite, agora precisa mostrar sua outra face: a de negociador internacional. E como dizem os mais antigos na roça: "Quando a porteira aperta, ou inventa ou se aperta".