
Era pra ser mais um dia normal nos currais do interior paulista, mas o que se vê são porteiras fechadas e um silêncio atípico. Desde que as novas tarifas americanas bateram como um raio em pleno inverno, o gado parou de rodar — e o prejuízo tá escorrendo mais rápido que o sangue no abatedouro vazio.
O que tá pegando?
Os frigoríficos tão com os freezers vazios, os caminhões parados e os pecuaristas fazendo contas no papel de pão. "A gente virou refém de briga de cachorro grande", desabafa um produtor de Orlândia que preferiu não se identificar. Ele não é exceção: pelo menos 15 municípios da região tão na mesma enrascada.
E olha que a coisa não tá feia só no papel — o cheiro de crise já dá pra sentir:
- Vendas suspensas em 8 entre 10 propriedades visitadas
- Preço do boi gordo caindo que nem manga madura
- Corretor de gado já tá migrando pra vender curso no Instagram
E os números?
Parece piada de mau gosto: só em Ribeirão Preto, 3 mil cabeças deixaram de ser negociadas na última semana. "Isso aqui tá virando um cemitério de negócio que morreu antes de nascer", comenta um funcionário de cooperativa, enquanto acende o quinto cigarro da manhã.
E não adianta chorar o leite derramado — ou melhor, a carne que não vai pro prato. Os grandes players tão segurando a onda, mas os pequenos? Esses já tão vendo o fantasma da falência rondando a porteira.
"Tem produtor que botou o último centavo na engorda e agora tá com o boi no pasto e a conta no vermelho", revela o economista agrícola Marcos Rocha, num tom que mistura revolta com resignação.
Enquanto isso, em Brasília, o ministério da Agricultura promete "medidas emergenciais", mas ninguém sabe se chegam a tempo — ou se vão ser só mais um band-aid em hemorragia arterial.