Na mesa farta da ceia de Natal brasileira, um prato se destaca pela tradição e pelo sabor: a ave assada. No entanto, uma curiosidade passa despercebida por muitos. Apesar de ser popularmente chamado de "peru", o que costuma ser servido é, na verdade, a fêmea da espécie, a perua. Mas qual a razão por trás dessa escolha?
A diferença entre peru e perua vai além do gênero
A explicação principal está no tamanho e na logística de produção. Conforme explica o pesquisador Elsio Figueiredo, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Suínos e Aves, as peruas são significativamente menores que os perus machos. Essa diferença de porte torna mais vantajoso para os produtores comercializar a carne da fêmea inteira, especialmente para um evento familiar como o Natal, onde uma carcaça de cerca de 4 kg é ideal.
Os machos, por sua vez, atingem pesos muito maiores, o que os torna mais adequados para o processamento industrial. A carne deles é destinada principalmente ao setor de cortes, sendo transformada em produtos como peito de peru fatiado, salsichas e itens defumados.
Criação separada e ciclo de vida distinto
Na granja, perus e peruas são criados em ambientes separados. Essa prática é essencial para garantir o bem-estar e a eficiência alimentar. O peru macho, por ser maior e mais dominante, tende a monopolizar a ração quando criado junto com as fêmeas, prejudicando o desenvolvimento delas.
Outro ponto crucial é o tempo de vida até o abate. As peruas destinadas à ceia natalina têm um ciclo mais curto:
- São abatidas com aproximadamente 10 semanas de idade.
- Nessa fase, ultrapassam os 5 kg de peso vivo.
- Rendem uma carcaça de cerca de 4 kg, considerada perfeita para uma família.
Já os perus machos vivem quase o dobro do tempo, cerca de 20 semanas, podendo chegar a impressionantes 25 kg. Algumas fêmeas também seguem esse ciclo mais longo, sendo encaminhadas para o mercado de cortes após 20 semanas, quando atingem 15 kg. No entanto, o caminho inverso é raro: dificilmente um peru macho é vendido inteiro para consumo doméstico.
O motivo do preço elevado da ave
Se você já se perguntou por que o peru (ou a perua) tem um custo mais alto comparado a outras aves, a resposta começa na reprodução. De acordo com o pesquisador da Embrapa, o ciclo produtivo da espécie é menos eficiente que o da galinha comum.
Uma perua bota apenas cerca de 80 ovos por ciclo, um número muito inferior aos aproximadamente 180 ovos de uma galinha poedeira. Essa baixa taxa de postura torna os ovos e os pintinhos da espécie naturalmente mais caros, e esse custo inicial se reflete no preço final da carne que chega ao supermercado.
Assim, a tradição da perua na ceia de Natal é uma combinação de fatores práticos da agroindústria, logística de mercado e adequação ao consumo familiar. Uma história que vai da granja até a mesa decorada, unindo ciência, produção e celebração.