Cardeal de Brasília lidera missão de paz na Ucrânia e pede orações especiais
Cardeal de Brasília na Ucrânia pede orações especiais

Não é todo dia que um cardeal brasileiro cruza o oceano para mergulhar em um conflito que parece não ter fim. Mas Dom Paulo Cezar Costa — sim, aquele mesmo que já virou notícia por suas homilias cheias de calor humano — resolveu encarar o desafio. Desde segunda-feira, ele está na Ucrânia, num daqueles gestos que misturam coragem e fé num coquetel difícil de ignorar.

"A situação aqui é... bem, complicada não descreve nem pela metade", admitiu em um áudio enviado para a arquidiocese. Entre uma pausa e outra — dá pra ouvir até o barulho de fundo, coisa de quem não está num palácio, mas no meio do real — ele falou de cidades que mais parecem cenários de filme pós-apocalíptico. E de gente que, mesmo assim, insiste em reconstruir tijolo por tijolo.

O peso (e a leveza) das orações

O que mais chamou atenção foi o pedido específico: "Rezem de forma muito especial nestes dias". Não aquela reza mecânica, de rotina, mas aquela que arranha o céu com unhas e dentes. Quem conhece Dom Paulo sabe que ele tem um jeito peculiar de falar de espiritualidade — menos "reza decorada" e mais "conversa franca com o divino".

E olha que a agenda não é mole não:

  • Encontros com líderes religiosos locais — alguns com igrejas literalmente à metade
  • Visitas a abrigos onde crianças desenham casas que talvez não existam mais
  • Diálogos com autoridades que, convenhamos, estão mais acostumadas a discursos bélicos do que a palavras de conciliação

Numa das cenas mais marcantes — contada por um assessor que preferiu não se identificar —, o cardeal parou diante de um muro cheio de fotos de desaparecidos. Ficou uns bons minutos em silêncio. Depois, simplesmente colocou a mão sobre as imagens e rezou em voz baixa. Nada de discurso. Nada de encenação. Só aquela presença que, às vezes, fala mais que mil palavras.

Brasília na rota da paz

Curioso pensar que, enquanto aqui a gente se debruça sobre brigas políticas do cotidiano, um filho da capital federal está lá, no epicentro de um conflito global, tentando plantar sementes de esperança em solo árido. Dom Paulo já tinha histórico de mediações delicadas — mas dessa vez ele elevou a aposta.

"Não se enganem: isso aqui não é turismo religioso", disparou em certo momento, com aquele tom firme que alterna com sorrisos fáceis. "É sobre escutar mais do que falar. Sobre lembrar que, por trás de estatísticas, tem gente como a gente."

Enquanto isso, em Brasília, fiéis se organizam para vigílias de oração. Alguns com velas. Outros com aquela fé quieta que não precisa de adereços. A pergunta que fica: num mundo tão dividido, gestos assim ainda fazem diferença? O cardeal, certamente, aposta que sim.