A inauguração do canal de notícias SBT News, na última sexta-feira, 12 de dezembro de 2025, gerou uma polêmica que rapidamente tomou conta das redes sociais. O evento, que marcou a abertura das portas do SBT para a estreia oficial do novo canal nesta segunda-feira, contou com a presença de diversas celebridades e autoridades, incluindo um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Reação de Zezé Di Camargo e a tradição de Silvio Santos
A participação do presidente Lula desagradou a apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro na internet. No entanto, a crítica mais contundente partiu do cantor sertanejo Zezé Di Camargo. Ele acusou as filhas de Silvio Santos, a família Abravanel, de não honrarem a posição política do pai e chegou a pedir que seu especial de Natal, já gravado, não fosse mais exibido no canal.
Contudo, a história revela que Zezé Di Camargo está equivocado. Ao convidar Lula para a cerimônia, as filhas de Silvio Santos, na verdade, estavam honrando uma longa e consolidada tradição do patriarca. Silvio Santos sempre cultivou relações com ocupantes do Palácio do Planalto, independentemente de partido, ideologia ou regime político. Essa foi uma estratégia fundamental para a sobrevivência e o sucesso do SBT ao longo de mais de quatro décadas no ar.
O "malabarista do status quo" e suas alianças políticas
Para se manter no topo da televisão brasileira, Silvio Santos desenvolveu um notável jogo de cintura. Ele se declarou apoiador dos militares durante a ditadura e manteve uma postura cordial com todos os presidentes eleitos desde a redemocratização. Em uma entrevista de 1998, o fundador do SBT chegou a se definir como um "office-boy de luxo do governo", afirmando: "Faço aquilo que posso para ajudar o país e respeito o presidente, qualquer que seja o regime".
A proximidade com o poder começou com o general João Figueiredo, que viabilizou a concessão de parte dos canais da extinta TV Tupi para a criação do SBT. Desde então, a emissora veiculou o quadro "A Semana do Presidente", custeado pelo Estado e com tom positivo sobre as ações do governo federal. O programa ficou no ar até 1996.
Mesmo alinhado publicamente com a direita, Silvio Santos nunca escanteou figuras da esquerda. Em um documentário gravado em 2016 e exibido em 2021, tanto Lula quanto Dilma Rousseff, então presidente, demonstraram respeito e admiração pelo apresentador, comentando sua tentativa de candidatura presidencial em 1989. Lula também foi sabatinado no SBT durante a campanha daquele ano.
Do governo Bolsonaro de volta a Lula: a adaptação constante
A reação negativa nas redes à presença de Lula no SBT News é, em grande parte, fruto da recente e próxima relação do canal com Jair Bolsonaro. Após a eleição de 2018, o SBT veiculou vinhetas nacionalistas alinhadas ao discurso bolsonarista. Em 2020, o então presidente recriou o Ministério das Comunicações e nomeou Fábio Faria, genro de Silvio Santos, para o comando. A verba publicitária federal para o SBT também aumentou significativamente.
No entanto, após a derrota de Bolsonaro em 2022, Silvio Santos demonstrou mais uma vez sua capacidade de adaptação. Em julho de 2023, ele conversou por telefone com Lula durante uma reunião do presidente com a família Abravanel. Na inauguração do SBT News, Daniela Beyrute, filha de Silvio e atual presidente do SBT, lembrou em seu discurso que o pai gostava de receber políticos, deixando claro que a família segue a tradição pragmática do patriarca.
Portanto, longe de representar uma quebra de princípios, o convite a Lula reforça o legado de Silvio Santos: a manutenção do negócio e da emissora em primeiro lugar, acima de preferências políticas pessoais, um cálculo que garantiu a permanência do SBT como uma das principais redes de televisão do Brasil.