Quase um quarto de século após sua partida, Cássia Eller ganha um novo retrato através das páginas de uma biografia que promete revelar os múltiplos aspectos da artista que marcou a música brasileira. A obra Eu Quero Ser Cássia Eller, escrita pelo jornalista Tom Cardoso, chega às livrarias pela editora HarperCollins trazendo uma análise profunda da vida e carreira da cantora.
O nascimento do projeto biográfico
A ideia de escrever sobre Cássia Eller surgiu quando Tom Cardoso mergulhava na vida de outra grande nome da música nacional: Nara Leão. Durante suas pesquisas, o autor percebeu que havia uma lacuna significativa quando se tratava de documentar a trajetória da cantora que faleceu em 2001, aos 39 anos.
Tom Cardoso explica que sempre teve admiração e curiosidade pela personalidade complexa de Cássia. O biógrafo chegou a entrevistar a artista em algumas oportunidades e ficou impressionado com o contraste entre sua persona pública e privada.
"Fiquei impressionado com sua timidez, o jeito lacônico, o avesso do avesso do avesso do que ela era no palco", revela o autor em entrevista à coluna GENTE. Esses paradoxos foram decisivos para que ele tomasse a decisão de se dedicar a contar sua história.
A jornada artística e as tensões com a indústria
O livro traça um panorama completo da vida da cantora, começando pela infância no subúrbio carioca até alcançar o estrelato no mundo musical. A biografia é construída através de relatos e memórias de pessoas próximas à artista, incluindo sua viúva, Eugênia, responsável pelo prefácio da obra.
O título Eu Quero Ser Cássia Eller foi inspirado na música homônima de Péricles Cavalcanti, composta em homenagem à artista. Cardoso justifica a escolha: "Cássia tentou diversas vezes ser ela mesma e só no final da carreira conseguiu, a partir da parceria com Nando Reis".
A biografia não se furta a abordar as tensões que marcaram a relação da cantora com a indústria fonográfica. Os executivos das gravadoras pressionavam constantemente por canções mais comerciais, um conflito que acompanhou boa parte de sua trajetória.
Um episódio emblemático revisitado no livro foi a gravação de "Palavras ao Vento", música de Marisa Monte e Moraes Moreira, que Cássia registrou por imposição de seu então empresário, Leonardo Neto. A situação só se transformaria quando a cantora iniciou sua parceria com Nando Reis, que produziu seus discos a partir de "O Meu Mundo Ficaria Completo (Com Você)".
A filosofia por trás da escolha dos biografados
Tom Cardoso, que já escreveu sobre figuras emblemáticas como o jogador Sócrates e Chico Buarque, agora com 81 anos, compartilha seu critério para selecionar os personagens de suas obras. "Costumo dizer que um bom personagem tem que ter uma sarjeta, uma história de vida de altos e baixos, muitas ambivalências, contradições", afirma o biógrafo.
Esta perspectiva explica sua preferência por determinadas personalidades. "Escrevi sobre Sócrates e não sobre Zico", exemplifica Cardoso, deixando claro que são as complexidades e contradições que verdadeiramente despertam seu interesse como escritor.
A biografia de Cássia Eller se apresenta não apenas como um registro histórico, mas como uma investigação profunda sobre os paradoxos que definiram uma das vozes mais autênticas da música popular brasileira. A obra chega para preencher uma lacuna importante no entendimento da artista que, mesmo quase 25 anos após sua morte, continua a fascinar novas gerações.