Lázaro Ramos revela descoberta do racismo fora da Ilha do Pati na Bahia
Lázaro Ramos: do descobrimento do racismo ao teatro

O ator Lázaro Ramos foi o destaque do Globo Repórter - Personalidades na última sexta-feira (28), em um emocionante retorno às suas origens na Bahia. Durante o programa, ele revisitou lugares marcantes de sua infância e adolescência, compartilhando memórias profundas sobre família, identidade e descobertas.

Ilha do Pati: proteção e autoestima na infância

A jornada começou na Ilha do Pati, localizada na Baía de Todos os Santos, onde o artista passou seus primeiros anos de vida. "Minha família toda é daqui, meu pai e minha mãe são nascidos aqui, minha avó paterna morava aqui, meu avô paterno, meus primos todos", emocionou-se Lázaro. "É onde meus pais se encontraram e por isso eu nasci".

Um dos momentos mais significativos da visita foi na soleira da porta da Igreja de São Roque, local que guarda suas melhores lembranças. "Aqui tem a melhor vista da ilha. Era o lugar onde a gente gostava de ficar para conversar. Sentávamos nesses degraus e a vida passava entre conversas e brincadeiras. Foi aqui que a gente imaginava o futuro", recordou.

O ator destacou a importância do ambiente protegido que vivenciou na ilha, com forte presença da população negra. "Na minha infância era literalmente todo mundo negro, menos Dona Duda que era rezadeira. Eu fui descobrir o que é racismo, preconceito, ao sair da ilha, ao ir para o mundo, ao tentar acessar outros lugares, que pareciam que não eram para mim", revelou. "Aí eu fui entender, mas aqui eu vivi uma proteção e um amor e uma injeção de autoestima que foi importantíssimo".

Garcia e escola: primeiros passos no teatro

A visita continuou pelo bairro do Garcia, em Salvador, onde Lázaro deu seus primeiros passos no teatro, ainda através da igreja. "Isso aqui para mim era um mundo", confessou o ator.

Seu amigo de infância, Ricardo 'Cacá' Rodrigues, lembrou do garoto criativo que já demonstrava talento. "Era sempre brincando por aqui, desde pequeno. Ele com essa veia artística dele, de sempre criar coisas, inventar. E a gente sempre ia falando assim, 'rapaz, você tem futuro, viu?'", contou.

Outro capítulo pouco conhecido da vida do artista foi revelado na Escola Anísio Teixeira, onde ele cursou técnico em patologia clínica. Sua professora de parasitologia, Idalina Maria de Freitas, recordou quando Lázaro quase abandonou os estudos devido às dificuldades familiares.

"Um dia eu notei Lázaro muito triste na sala de aula. Eu fui lá e perguntei: 'o que é que você tem?' Ele disse: 'eu vou deixar a escola, porque eu não tenho condição. Minha mãe está muito doente e meu pai precisa trabalhar e eu já estou na idade de ajudar a minha família'", relatou a professora. "Eu digo: 'você dá. Você vai dar conta porque todo ser humano dá conta de trabalhar e de estudar. Por que você não pode? Você não é diferente de ninguém'".

Foi nessa mesma escola pública que Lázaro pôde ter suas primeiras aulas de teatro. "Eu tive coragem de falar que eu queria ser ator por causa dessa escola", afirmou.

O destino no Bando de Teatro Olodum

A virada decisiva em sua carreira aconteceu quando amigos o convidaram para um teste no Bando de Teatro Olodum, no Pelourinho. "Eu não queria ir porque a inscrição era R$5", brincou Lázaro.

Mas foi ali que ele encontrou sua verdadeira vocação: "Quando vi aqueles atores, pensei: quero isso para a vida toda", contou emocionado. Essa decisão marcou o início de uma trajetória de sucesso que transformaria o menino da Ilha do Pati em um dos atores mais respeitados do Brasil.

A reportagem completa mostrou como as raízes baianas e as experiências de infância foram fundamentais na formação do artista, oferecendo uma perspectiva íntima e comovente sobre identidade, superação e a importância das origens.