A trajetória política do cantor Zezé Di Camargo, uma das vozes mais emblemáticas da música sertaneja, nunca foi um segredo. Ao longo dos anos, o artista tem exposto publicamente suas opiniões, gerando tanto apoio quanto polêmica. Suas declarações frequentemente envolvem figuras centrais da política brasileira, com o ex-presidente Lula sendo um alvo recorrente de suas críticas, embora sua posição tenha apresentado nuances e mudanças ao longo do tempo.
Defesa do militarismo e críticas à esquerda internacional
Em 2017, em uma entrevista para um canal do YouTube, Zezé Di Camargo fez declarações que reacenderam o debate sobre o período da ditadura civil-militar no Brasil. O artista argumentou que o país viveu um "militarismo vigiado" e não uma ditadura propriamente dita.
"Muita gente confunde militarismo com ditadura", afirmou. Ele contrastou a experiência brasileira com regimes como os da Venezuela, Cuba, Hungria, Coreia do Norte e China, que classificou como "realmente ditadores". Para Zezé, no Brasil da época, a situação era distinta: "Nunca chegou a ser uma ditadura daquelas que ou você está a favor ou você está morto".
O rompimento com Lula e o apoio a Moro
Dois anos depois, em 2019, o cantor manifestou apoio à prisão do ex-presidente Lula. Em comentários em uma foto ao lado de Sérgio Moro, então ministro da Justiça, Zezé foi enfático.
"O Lula não é um preso político. Ele é um preso por corrupção", declarou. O artista revelou que já foi apoiador de Lula, tendo até doado música para sua campanha e votado nele por duas vezes. No entanto, afirmou ter mudado de opinião: "Depois que vi que o PT desviou para Venezuela, Nicarágua, Cuba e outros países para fortalecer a esquerda na América Latina, acordei para a real. Hoje, defendo o meu país".
O alinhamento com Bolsonaro e a defesa da família
O apoio público a Jair Bolsonaro veio em 2020, durante a polêmica sobre uma suposta interferência na Polícia Federal. Zezé Di Camargo saiu em defesa do então presidente, questionando as acusações.
"O presidente tem direito, sim, de tomar as prerrogativas", disse. Ele também justificou a defesa de Bolsonaro por seus filhos: "Qual pai não defenderia seu filho em qualquer circunstância?". Na ocasião, reafirmou seu voto: "Votei nele na eleição passada e votaria de novo", e criticou o Supremo Tribunal Federal (STF), acusando-o de querer ser "o único poder".
O discurso de 2022 e a mudança de tom em 2023
Durante a campanha eleitoral de 2022, como apoiador declarado de Bolsonaro, Zezé participou do programa Faustão na Band. Ele explicou seu posicionamento de forma mais pessoal, ligando seu bem-estar ao do país.
"O que penso na vida é que se o Brasil não estiver bem, se o povo do Brasil não estiver feliz, não vou estar bem porque fui feito pelo povo do Brasil", afirmou. Ele reconheceu que suas opiniões eram contundentes e que desagradavam a muitos, mas defendeu seu direito de expressão: "Só não aceito a agressão".
Com a vitória de Lula nas urnas, o discurso do cantor apresentou uma mudança significativa em janeiro de 2023. Adotando um tom mais conciliador e menos partidário, Zezé declarou: "Não sou Bolsonaro, não sou Lula, sou Brasil". Ele procurou se distanciar dos extremos ideológicos, afirmando: "Não sou de esquerda nem de direita, mas acho que Brasil tem que estar bem, independentemente de quem esteja no poder".
A série de declarações de Zezé Di Camargo ilustra uma jornada política marcada por posicionamentos fortes, mudanças de opinião e uma tentativa final de se colocar acima das divisões partidárias. Suas falas continuam a refletir as tensões e os debates profundos que caracterizam o cenário político brasileiro.