
Imagine viver mais de um século e, mesmo assim, manter um sorriso no rosto e uma sabedoria que contagia quem passa por perto. Foi assim que José da Silva, o morador mais velho de Pratânia, conquistou o coração de todos na cidade. Ele partiu aos 108 anos, deixando um legado de histórias, conselhos e uma amizade canina que virou lenda.
Um homem que virou símbolo da cidade
José não era apenas um senhor de idade avançada. Ele era o senhor. Aquele que todo mundo parava para cumprimentar, que tinha uma palavra certa para cada situação e que, mesmo com mais de 100 anos, ainda tinha energia para brincar com seu fiel companheiro, o vira-lata Bento.
— Ele era uma figura única — conta Maria, dona do mercadinho da esquina. — Vinha aqui todo dia, comprar pão e contar causos. E o Bento sempre atrás, como uma sombra. Parecia que entendia cada palavra.
Conselhos que atravessaram gerações
Não era raro ver jovens batendo à porta de José em busca de orientação. De problemas amorosos a dúvidas profissionais, ele tinha um jeito peculiar de aconselhar — sempre com metáforas simples, tiradas da roça ou do comportamento dos animais.
- "A vida é como plantio: tem hora de semear e hora de colher, mas nunca deixe de regar", dizia.
- "Cachorro não guarda rancor, por que você vai guardar?"
Seus ditos viraram até camisetas vendidas na feira livre — coisa que ele achava graça, mas nunca cobrou um centavo.
A amizade que virou documentário
Em 2022, um cineasta local resolveu registrar o dia a dia de José e Bento. O curta, chamado "O Homem e Seu Cão", rodou festivais e emocionou plateias. Mostrava desde os passeios lentos pela praça até as sonecas compartilhadas na varanda.
— Era como se eles conversassem — lembra o diretor. — José dizia que Bento entendia tudo, e a gente começou a acreditar também.
Quando o cachorro morreu, há três anos, muitos temeram pelo José. Mas ele surpreendeu: "Bento me ensinou que a vida segue. Agora vou ensinar isso a vocês".
Os segredos da longevidade (segundo José)
- Acordar cedo, mas dormir a sesta
- Comer de tudo, mas pouco de cada
- Rir das próprias trapalhadas
- Ter um animal para cuidar
- Nunca guardar mágoa "mais que três dias"
Não era exatamente ciência, mas funcionou para ele. Até os 107, ainda ia à missa aos domingos e ajudava a organizar a festa do padroeiro.
Pratânia perdeu não só seu morador mais antigo, mas um pedaço de sua identidade. Restam as histórias — e o exemplo de como envelhecer com graça e um cachorro ao lado.