Tom Cardoso lança biografia de Cássia Eller e se define como 'perfilista'
Biografia de Cássia Eller por Tom Cardoso é lançada

O escritor Tom Cardoso, conhecido por uma série de biografias de personalidades brasileiras, acaba de lançar um novo trabalho, mas rejeita o título tradicional de biógrafo. Ele prefere se definir como "perfilista", um termo que, segundo ele, não existe oficialmente, mas que se encaixa perfeitamente em seu estilo de escrita. Seu livro mais recente é "Eu Queria Ser Cássia Eller: Uma Biografia", publicado pela HarperCollins.

Por que Cássia Eller? A escolha do personagem

Uma pergunta natural surge com o lançamento: por que escrever sobre Cássia Eller agora, mais de 20 anos após sua morte? A cantora faleceu em dezembro de 2001, aos 39 anos, vítima de um ataque cardíaco. Sua partida ocorreu poucos meses após o lançamento de seu álbum de maior sucesso, "Acústico MTV", que vendeu mais de 1 milhão de cópias.

Cardoso, que já escreveu sobre figuras como Caetano Veloso, Chico Buarque, Sócrates e Nara Leão, explica que sentiu vontade de voltar a escrever sobre uma mulher. Ele afirma ter uma "certa implicância" com a política identitária que defende que apenas mulheres podem escrever sobre mulheres. "Estou preparando uma biografia do Mano Brown, e já tem gente falando que um playboy branco do Butantã não pode escrever sobre ele", comenta o autor, destacando seu desejo de provar que o gênero do biógrafo não é um impeditivo.

Além disso, ele buscava uma personalidade com uma grande carreira, densidade musical e uma vida que rendesse uma boa narrativa. "Eu acho que a Cássia tem esses ingredientes. A questão das drogas. Ter morrido cedo. Ser muito tímida", afirma. O fato de já existir uma biografia mais antiga sobre a cantora não o desencorajou; pelo contrário, serviu como motivação para contestar a ideia de que um biógrafo é "dono" de seu personagem.

O método do "perfilista": precisão acima de tudo

Diferente de biografias extensas que acumulam dados, Cardoso defende um formato mais enxuto e atraente. "Eu não gosto de ler biografias de 500 páginas. Daí a ideia de ser um perfilista. Escrevo um perfil", explica. Para ele, no mundo da Wikipédia, livros muito longos perderam parte do sentido. Seu objetivo é contar histórias interessantes de forma agradável, fazendo com que os leitores se sintam curiosos para descobrir mais sobre o personagem e, no caso, ouvir os discos de Cássia Eller.

No entanto, há uma regra que ele não transgride: a precisão absoluta das informações. "Eu já escrevi 18 livros e nunca fui processado. Eu tenho um rigor de pesquisa, não coloco fofoca nos livros", garante o autor. O livro de 306 páginas traça a formação de uma artista popular, talentosa, homoafetiva, que lutou contra o vício em drogas e era marcada por uma timidez profunda.

Olhar íntimo e perspectivas sobre a cantora

A obra conta com um prefácio escrito por Maria Eugenia Vieira Martins, companheira de Cássia e quem cuidou de seu filho, Chicão, hoje conhecido como o cantor Chico Chico. Cardoso destaca que a colaboração de Maria Eugenia foi fundamental, e que ele pôde conversar com muitas pessoas próximas à cantora, algo que nem sempre é possível em suas pesquisas.

As entrevistas com a banda de Cássia foram especialmente ricas. "Eles conviviam muito tempo com ela... eram como irmãos dela de verdade", relata. O autor descreve uma personalidade generosa: a cantora, por vezes com direito a dois camarins, ficava com a banda em um e deixava o outro à disposição da equipe de segurança, faxineiros e copeiros.

Cardoso também reflete sobre como seria Cássia Eller se estivesse viva hoje, aos 60 anos. "Ela nunca gostou de levantar bandeira. Ela teria um pouco de fastio dessa política identitária, dessa coisa de linguagem neutra... Acho que depois, com Jair Bolsonaro, ela teria um posicionamento de oposição", especula.

Por fim, o autor analisa como a extrema timidez da artista impactou sua carreira e sua vida. Ele a contrasta com outros grandes nomes, como Bethânia ou Ney Matogrosso, conhecidos por sua disciplina. "A Cássia não sabia lidar com muitas coisas. Ela morre por causa de estresse emocional", afirma, citando o episódio corriqueiro de comprar passagens de avião, que a teria levado a um surto de estresse no dia de sua morte.

O livro "Eu Queria Ser Cássia Eller: Uma Biografia" está à venda por R$ 69,90 na versão física e R$ 49,90 no formato ebook.