O jornalista e apresentador Pedro Bial fez revelações profundas e emocionantes sobre os últimos momentos de vida de sua mãe, Susanne Bial, durante participação no videocast Conversa vai, conversa vem, do jornal O Globo. Em conversa com a repórter Maria Fortuna, Bial compartilhou detalhes íntimos do processo de luto e das reflexões sobre a finitude que a experiência lhe proporcionou.
O sofrimento e a decisão difícil
Pedro Bial descreveu com franqueza a situação de sua mãe nos últimos tempos de vida. Susanne Bial, que era psicanalista, completou 101 anos um dia antes de falecer em julho de 2025. Segundo o filho, a qualidade de vida da mãe havia se deteriorado significativamente, chegando a um ponto onde ela não tinha mais prazer em atividades que antes amava, como a leitura.
"Ela não tinha mais prazer nenhum. Adorava ler e não conseguia mais. A vida dela eram as indignidades da decrepitude", contou Bial de forma emocionada. O apresentador revelou que a família chegou a considerar seriamente a possibilidade do suicídio assistido na Suíça, como uma forma de aliviar o sofrimento da matriarca.
Reflexões sobre a finitude e a legislação
Diante da impossibilidade de concretizar o suicídio assistido, a família optou pelos cuidados paliativos. Bial explicou que esta se tornou a maneira de permitir que sua mãe morresse com dignidade. "Fomos cuidar dos paliativos, que é o jeito de deixar uma pessoa morrer dignamente. Ela era uma fortaleza", afirmou.
A experiência transformou completamente a visão do jornalista sobre a morte. Bial destacou que a medicina contemporânea, ao prolongar a vida, cria novos dilemas éticos e existenciais. "Tudo isso me levou a ter a clareza de que todos nós, com os recursos que a medicina contemporânea nos dá, a vida estendida que se promete, vamos nos defrontar com essa questão. Como a gente quer morrer?", questionou.
O apresentador também fez críticas à legislação brasileira sobre o tema, comparando-a com avanços em outros países. "[Ela] já vinha pedindo para ir. Estava conversando sobre isso com ela, buscamos maneiras de abreviar. O Brasil tem essa lei defasada com relação à modernidade… Agora, o Uruguai já deu um passo, como sempre à frente do resto da América Latina", completou.
O medo de morrer e o legado familiar
Em suas reflexões, Pedro Bial citou até mesmo o cantor Gilberto Gil para expressar os sentimentos contraditórios que envolvem o fim da vida. "Mesmo com um desejo de ir embora, dá um medo danado. Mesmo que não seja o medo da morte, como diz o Gilberto Gil, o medo de morrer. Porque morrer ainda é aqui", refletiu.
O jornalista enfatizou a importância de discutir publicamente essas questões, especialmente em um país como o Brasil, onde o tema ainda é tabu. Bial defendeu que é preciso enfrentar o debate sobre morte digna e autonomia sobre o próprio fim de vida, tema que se tornou pessoal e urgente após sua experiência familiar.
A entrevista completa está disponível no episódio do videocast Conversa vai, conversa vem, que foi ao ar no dia 25 de novembro de 2025, trazendo uma discussão necessária e comovente sobre um dos temas mais delicados da condição humana.