À beira do campo, a imagem é sempre a mesma: roupa totalmente preta. Essa escolha minimalista de Filipe Luís vai além da estética - é uma decisão consciente para economizar energia mental. O técnico do Flamengo adota a mesma filosofia que Steve Jobs, fundador da Apple, preferindo concentrar suas forças no que realmente importa: escalação, esquema tático e a busca por resultados.
Uma metodologia forjada na Europa
A formação de Filipe Luís como treinador foi profundamente influenciada por suas experiências no futebol europeu. Diego Simeone, seu técnico no Atlético de Madrid, deixou marcas permanentes em sua filosofia de trabalho. Do argentino, ele incorporou a cultura de treino intenso e a dedicação máxima como valores inegociáveis.
O metódico treinador também bebeu na fonte do português Jorge Jesus, durante sua passagem pelo Flamengo como jogador. Filipe Luís anotou tudo o que aprendeu com o europeu e hoje é o primeiro comandante rubro-negro a permanecer mais de um ano no cargo desde Jesus.
Os detalhes superticiosos também fazem parte do seu cotidiano. Guilherme Siqueira, ex-jogador e empresário de Filipe Luís, revela que no tempo de lateral-esquerdo, o atleta precisava receber sua dose de energético diretamente das mãos do nutricionista - tudo por superstição.
Gestão de pessoas e as convicções do técnico
Um dos maiores desafios de Filipe Luís foi assumir o comando de ex-companheiros de equipe. Marcos Braz, vice de futebol do Flamengo, reconhecia que essa seria uma barreira inicial, mas que foi superada com competência pelo jovem técnico.
A relação com Gabigol foi uma das primeiras a ser trabalhada. "Briguei com ele. Amei ele. A gente se beijou, discutiu, se xingou e ficou três meses sem se falar", lembra o treinador sobre seus tempos de jogador. Apesar do histórico conturbado, Gabi foi protagonista da final da Copa do Brasil, primeiro título de Filipe Luís no comando.
Com Arrascaeta, a abordagem foi diferente. O técnico foi pessoalmente à casa do uruguaio para uma conversa franca, deixando claro que decisões técnicas não afetariam sua amizade. A atitude foi bem recebida e o camisa 10 se tornou o principal jogador do time em 2025.
O caso Pedro e a defesa da cultura de treino
Um dos momentos mais marcantes da passagem de Filipe Luís pelo Flamengo foi sua entrevista histórica criticando o atacante Pedro. O técnico não economizou nas palavras em defesa do que chama de "cultura de treino".
Essa postagem firme, no entanto, trouxe resultados positivos. Tanto o desempenho subsequente do jogador quanto sua resposta em campo ajudaram a dar razão ao treinador. Recentemente, o próprio Filipe Luís defendeu publicamente a convocação de Pedro para a seleção brasileira sob o comando de Carlo Ancelotti.
Para René Simões, que atua como mentor de Filipe Luís, existe uma diferença crucial entre teimosia e convicção. "Teimosia é quando eu acredito em alguma coisa e não aceito refletir sobre ela. Convicção é quando eu tenho certeza de alguma coisa, mas alguém me faz tirar os óculos e olhar de outra forma", explica.
Resultados que falam por si
A filosofia de trabalho de Filipe Luís já rende frutos expressivos. O Flamengo chegou à final da Libertadores 2025, que será disputada contra o Palmeiras no sábado, às 18h (horário de Brasília).
No Brasileirão, a equipe mantém cinco pontos de vantagem sobre o vice-líder Palmeiras, restando apenas duas rodadas para o fim da competição. Os títulos, no entanto, virão sem Pedro, lesionado nesta reta final da temporada.
Os números comprovam a eficácia do trabalho: 83 jogos, 53 vitórias, 21 empates e apenas nove derrotas. Isso significa que o Flamengo perdeu apenas cerca de um a cada nove jogos sob seu comando.
O futuro de Filipe Luís no Flamengo parece promissor. Recentemente, ele recusou uma proposta do Fenerbahçe da Turquia e negocia sua renovação até 2026. O técnico demonstra satisfação com sua atual função: "Quanto mais pressão, quanto mais as coisas são difíceis, mais eu desfruto desse trabalho".